Emissões de metano vindas de combustíveis fósseis continuam em níveis próximos de recordes

Produção de energia vinculada a petróleo, gás e carvão gerou quase 120 milhões de toneladas do gás em 2023

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Benjamin Legendre
AFP

As emissões de metano procedentes dos combustíveis fósseis permaneceram em níveis próximos dos recordes em 2023, afirma a análise publicada nesta quarta-feira (13) pela AIE (Agência Internacional de Energia).

A produção de energia vinculada a petróleo, gás e carvão "gerou quase 120 milhões de toneladas de emissões de metano em 2023, um pouco acima do resultado de 2022", mas "espera-se que diminuam em breve", afirma o relatório "Global Methane Tracker 2024", que monitora as emissões em todo o mundo.

A redução seria motivada pelas mudanças iniciadas no setor e pelos compromissos assumidos na COP28, conferência do clima da ONU realizada em Dubai em 2023.

Plataforma com chama vista de cima
Queima de gás natural em plataforma da companhia Pemex no Golfo do México - Maxar Technologies/Divulgação via Reuters

"Dez milhões de toneladas adicionais procedem da bioenergia", como o uso de madeira para cozinhar, aponta a AIE.

O metano, o segundo gás de efeito estufa mais importante, depois do CO2, é a molécula do gás natural que escapa dos gasodutos, das minas de carvão e dos fogões, mas também das vacas, dos campos de arroz e dos resíduos.

Quase 580 milhões de toneladas de metano são emitidas por ano, das quais 60% são atribuíveis à atividade humana (principalmente à agricultura) e quase um terço às áreas úmidas naturais.

O metano é muito mais potente que o CO2, mas sua vida útil é consideravelmente mais curta (quase uma década). Os cientistas indicam que ele é responsável por aproximadamente 30% do aquecimento global desde a Revolução Industrial.

As emissões de metano da indústria de combustíveis fósseis permanecem próximas do recorde de 2019 e estão muito longe dos 75% de redução necessários até 2030 para manter o limite de aquecimento do planeta em 1,5°C, como estabelecido pelo Acordo de Paris.

"Não há motivo para que estas emissões continuem tão elevadas", criticou Tim Gould, economista-chefe da AIE.

Em 2023, "quase 40% poderiam ter sido evitados sem custo líquido, pois o valor do metano capturado e comercializado é superior aos gastos para impedir os vazamentos", explica a AIE.

Reduzir essas emissões em 75% custaria "cerca de US$ 170 bilhões [cerca de R$ 844 bilhões de reais], menos de 5% da receita da indústria dos combustíveis fósseis em 2023", acrescenta a agência.

Quase dois terços do metano emitido pela indústria de combustíveis fósseis "procedem de apenas dez países", destacou Christophe McGlade, especialista em energia da AIE.

A China é "de longe" o maior emissor de metano procedente do carvão, e os Estados Unidos, em razão do petróleo e do gás, seguidos de perto pela Rússia.

Ponto de inflexão

Entre as "tendências preocupantes", Christophe McGlade menciona os grandes vazamentos detectados por satélite, que "aumentaram mais de 50% na comparação com 2022", representando 5 milhões de toneladas adicionais.

Um deles, gigantesco, no Cazaquistão, durou quase 200 dias.

Apesar do cenário, a AIE mantém o otimismo. "As políticas e regulamentações importantes anunciadas nos últimos meses, assim como os novos compromissos assumidos na reunião de cúpula do clima COP28 no Dubai, podem provocar em breve a redução", afirma a instituição.

Na COP28, 52 empresas de petróleo e gás se comprometeram a adotar uma política de "metano quase zero" em suas operações até 2030, mas a promessa foi recebida com ceticismo.

Mais de 150 países, incluindo o Azerbaijão, anfitrião da COP29, também aderiram à iniciativa Global Methane Pledge, que tem como objetivo reduzir em 30% as emissões entre 2020 e 2030.

"Se todas as promessas forem cumpridas com perfeição e dentro do prazo, reduzirão as emissões em cerca de 50% até 2030", afirmou Christophe McGlade.

Os novos compromissos, no entanto, "ainda não foram respaldados por planos detalhados", segundo o analista.

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