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Planeta em Transe sustentabilidade

Mais conhecimento amazônico para a sustentabilidade

Graduados e pós-graduados na Amazônia migram para atividades pouco qualificadas ou para grandes centros urbanos do país, por falta de oportunidades na região

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Raimunda Monteiro

Professora titular da Universidade Federal do Oeste do Pará

Esther Bemerguy

Economista e conselheira do CDESS (Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável)

Ima Vieira

Doutora em ecologia pela University of Stirling (Escócia) e pesquisadora titular do Museu Paraense Emílio Goeldi

Desde a implementação do Reuni (Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais, de 2007 a 2012, testemunhamos um notável aumento de graduados, mestres e doutores egressos das IESs (Instituições de Ensino Superior), IFs (Institutos Federais) e ICTs (Institutos de Ciência e Tecnologia) da Amazônia.

A redução das disparidades em relação a outras regiões do país tem nessas instituições um papel fundamental na pesquisa, na formação de profissionais altamente qualificados em áreas avançadas e no fomento da inovação para a sustentabilidade econômica, social e ambiental.

Copas de árvores vistas de cima
Área da floresta amazônica na Floresta Nacional Bom Futuro, perto de Porto Velho, em Rondônia - Nacho Doce - 3.set.2015/Reuters

Foi com o intuito de evidenciar o protagonismo científico e tecnológico que essas instituições podem desempenhar na promoção da transformação ecológica, central no programa do atual governo, que escrevemos o artigo "Considerações para as Políticas de Ciência e Tecnologia no Contexto da Sustentabilidade da Amazônia", publicado na Revista Sustentabilidade em Debate, da Universidade de Brasília, de abril de 2024, incluindo a autoria do professor Ennio Candotti (in memorian).

Em uma pesquisa conduzida pelo antropólogo Alfredo Vagner em 2023, foram identificados 371 campi universitários, tecnológicos e de pesquisa atuando na formação de profissionais de alto nível nas cidades médias da Amazônia. Porém, a maioria desses graduados e pós-graduados migram para atividades pouco qualificadas ou para grandes centros urbanos do país, devido à falta de oportunidades econômicas na região.

O saudoso físico Ennio Candotti, falecido em dezembro passado, apresentou ao Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social Sustentável, o Conselhão, uma proposta embasada nesses dados. A proposta visa integrar os egressos dessas instituições em iniciativas governamentais e privadas para valorizar as florestas, promover melhorias e fortalecer a cidadania na Amazônia.

O fortalecimento da sociobioeconomia —uso dos recursos florestais respeitando os conhecimentos e modos de vida das populações locais é fundamental para evitar o desmatamento.

Economias sustentáveis dependem de incremento tecnológico, via de regra, associado aos agentes formados nos centros desenvolvidos do país e estranhos a ambiência amazônica, o que arrisca repetirmos modelos e narrativas enviesadas que já demonstraram sua incapacidade de reprodução sustentável dos modos de vida regionais.

As economias sustentáveis podem incorporar o conhecimento local para a qualificação de projetos, fornecimento de assessoria técnica especializada visando a eficiência produtiva, a nova industrialização e o desenvolvimento de novas cadeias de valor.

Economistas, biotecnólogos, químicos, cientistas de diversas áreas, agrônomos, engenheiros florestais, farmacêuticos, físicos... Uma gama de profissionais aguarda por oportunidades de trabalhar pela região. Muitos desses profissionais são indígenas, quilombolas e extrativistas, portadores de conhecimentos valiosos e de vivências com o meio ambiente.

A sustentabilidade econômica e social é intensiva em conhecimento. Estoques inestimáveis de biodiversidade estão sendo incinerados sem que conheçamos suas propriedades e serviços ecológicos.

As IESs, os IFs e as ICTs amazônicos ainda enfrentam desafios estruturais para contribuir plenamente para o desenvolvimento regional. Herdado de tempos coloniais, um processo de alienação persiste, em que agentes externos controlam serviços qualificados na região, perpetuando desigualdades socioeconômicas.

Daí a importância de investimentos novos e territorialmente referenciados nas instituições da região, para continuarem formando competências locais, essenciais para expandir os sistemas produtivos sustentáveis, bem como os serviços de cidadania para as populações da Amazônia.

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