Descrição de chapéu Energia Limpa

Emissões de carbono da China podem ter atingido pico em 2023

Estudo mostra queda em março, encerrando alta pós-pandemia; Pequim anuncia plano para maior redução em 2024-25

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Pequim

Um relatório do pesquisador finlandês Lauri Myllyvirta concluiu, diante da queda de 3% nas emissões de dióxido de carbono da China em março, encerrando mais de um ano de alta pós-pandemia, que o país pode ter alcançado o pico de emissão em 2023, sete anos antes do ano projetado. O estudo teve repercussão tanto na mídia chinesa quanto na ocidental.

Myllyvirta é fundador do Centro de Investigação em Energia e Ar Limpo de Helsinque e especialista em China do think tank nova-iorquino Asia Policy. Em seu estudo na publicação britânica Carbon Brief, escreve que "os motores da queda de CO2 em março foram a expansão da geração solar e eólica, que cobriu 90% do crescimento da demanda de eletricidade, bem como a queda da atividade de construção".

O anúncio dos prazos para redução foi feito há quatro anos pelo líder Xi Jinping, na Assembleia Geral da ONU: "Nosso objetivo é atingir o pico de emissões de CO2 antes de 2030 e alcançar a neutralidade de carbono antes de 2060".

Onda de poluição do ar atinge Pequim em 13 de janeiro de 2013
Onda de poluição do ar em Pequim em janeiro de 2013; cidade atingiu pico de emissão de CO2 em 2012 - Xinhua/Action Press/Honopix

Com base em estatísticas oficiais e comerciais chinesas, o estudo foi bem recebido, entre outros, pelo escritório do Greenpeace em Pequim. Nick Wang, da executiva da organização ambiental no leste asiático, avisa, porém, que a confirmação do resultado deve levar anos, a exemplo do que aconteceu com a própria capital chinesa.

"Fui ler pela primeira vez em 2021 que Pequim havia atingido o pico em 2012", diz o geógrafo. Uma das razões é a simples expectativa pela manutenção das políticas, a começar de duas bandeiras centrais do Greenpeace na China, contra o aumento de usinas de carvão e em defesa de maior participação de energia renovável como fonte de eletricidade.

"Resumindo, tem duas coisas que precisamos fazer", repisa ele. "Uma é deixar de aprovar novas centrais a carvão, deixar de construir novas centrais a carvão, e a segunda é uma melhor integração das energias renováveis, não só a adição de capacidade, mas uma melhor integração."

Dias depois da divulgação do estudo de Myllyvirta, foi publicado um extenso plano de ação pelo Conselho de Estado, equivalente ao ministério chinês, para redução de emissões neste ano e no próximo. Wang sublinha que as duas metas do Greenpeace que citou estão entre as "tarefas principais" do documento.

"A número um é controlar estritamente o consumo de carvão, e a segunda é melhorar a integração das fontes de energia renováveis, a capacidade de transmissão transprovincial, e também a rede", diz ele, lendo o extenso plano. "É um sinal bastante positivo do governo central, de transição do carvão de fonte maior de energia para fonte de apoio e regulação. Mas o mais importante é a implementação."

Myllyvirta também vê com bons olhos o plano. "É um sinal político de que as emissões de carbono estão de volta à agenda depois do vale-tudo da [política de] Covid zero. Pressiona províncias, ministérios e empresas a fazerem mais. Esses sinais de alto nível importam muito na China, então deve ajudar a colocar as coisas na direção certa."

Em seu relatório no Carbon Brief, ele destacou que "a principal razão para a tendência das emissões se transformar em queda, em março, foi que o crescimento das emissões do setor elétrico desacelerou acentuadamente, aumentando apenas 1% em relação ao ano anterior, devido ao forte crescimento da geração de energia solar e eólica".

Sobre a menor atividade na construção civil, que vem de vários anos, citou as quedas de março no uso de carvão e na produção de cimento. E destacou que, como alternativa para manter o crescimento, "a política econômica agora enfatiza 'novas forças produtivas', indústria de ponta e pesquisa e desenvolvimento, que são menos intensivos em energia".

Acrescentou que "o aumento da adoção de veículos elétricos está causando um impacto significativo na demanda por petróleo" na China no último ano.

Por outro lado, ele encerra o relatório falando de "um grande ponto de interrogação", quanto ao que pode acontecer agora, e citando "visões amplamente divergentes" dentro do próprio país: "a questão-chave para o futuro das emissões na China é se o crescimento da energia limpa vai prosseguir". Daí a importância do plano divulgado logo em seguida.

O estudo se baseia em dados do Escritório Nacional de Estatísticas, da Administração Nacional de Energia, do Conselho de Eletricidade e da Alfândega da China, além da Wind Information, um provedor de dados do setor.

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