Incêndios extremos duplicaram nos últimos 20 anos, mostra estudo

2023, ano mais quente da história, foi também recordista em gravidade do fogo nas florestas

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Austyn Gaffney
The New York Times

O ano mais quente já registrado, 2023, também foi o mais extremo em relação a incêndios florestais, de acordo com uma nova pesquisa.

Tanto a frequência quanto a intensidade de incêndios florestais extremos mais do que dobraram nas últimas duas décadas, descobriu o estudo. E, quando as consequências ecológicas, sociais e econômicas dos incêndios florestais foram consideradas, 6 dos últimos 7 anos foram os mais "energeticamente intensos".

"O fato de termos detectado um aumento tão grande em um período tão curto de tempo torna os resultados ainda mais chocantes", disse Calum Cunningham, pesquisador de pós-doutorado em pirogeografia na Universidade da Tasmânia e autor principal do estudo, publicado nesta segunda-feira (24) na revista Nature Ecology & Evolution.

"Estamos vendo as manifestações de um clima mais quente e seco diante de nossos olhos nesses incêndios extremos."

Silhueta de dois bombeiros em meio a muita fumaça e muitas chamas; a foto é completamente vermelha e laranja; há labaredas atrás dos dois homens
Bombeiros combatem chamas em Lebec, na Califórnia - David Swanson - 16.jun.2024/AFP

Na semana passada, incêndios no Novo México mataram duas pessoas e queimaram mais de 9.700 hectares; no sul da Califórnia, mais de 5.600 hectares queimaram perto de Los Angeles; e, na Turquia, pelo menos 12 pessoas morreram e muitas outras ficaram feridas por incêndios que começaram na quinta-feira (20) a partir da queima de resíduos de colheita, de acordo com autoridades de saúde e ministros turcos.

Embora os incêndios florestais possam ser mortais e custar aos Estados Unidos até US$ 893 bilhões anualmente, o que inclui os custos de reconstrução e os efeitos econômicos da poluição e lesões, a maioria dos incêndios é "relativamente benigna e, na maioria dos casos, ecologicamente benéfica", disse Cunningham.

O novo estudo analisou a potência total emitida por aglomerados de eventos de incêndio, definidos como incêndios que queimam ao mesmo tempo em proximidade, ou no mesmo local, em múltiplos momentos em um único dia. Os pesquisadores analisaram 21 anos de dados coletados por dois satélites da Nasa entre janeiro de 2003 e novembro de 2023 para quantificar como a atividade de incêndio mudou ao longo do tempo.

Eles identificaram 2.913 eventos extremos em mais de 30 milhões de incêndios em todo o mundo. Tais eventos extremos de incêndio também foram definidos pela grande quantidade de fumaça emitida, seus altos níveis de emissões de gases de efeito estufa, que podem acelerar ainda mais o aquecimento global, e os efeitos ecológicos, sociais e econômicos do incêndio.

"Isso tem sido o Santo Graal para mim", disse David Bowman, autor sênior do estudo e professor de pirogeografia e ciência do fogo na Universidade da Tasmânia.

Embora tenha observado incêndios se tornando mais fortes, especialmente na Austrália após os incêndios florestais de 2019 que mataram 173 pessoas e quase 3 bilhões de vertebrados, ele disse que precisava dos dados do estudo para mostrar uma tendência e comunicar que algo enorme está acontecendo.

"Quando você tem esses sinais tão assustadores, também é muito motivador", disse Bowman. "Há um imperativo de fazer algo a respeito disso."

O aumento global na frequência e intensidade dos incêndios foi quase exclusivamente causado por mudanças em duas regiões. Nas florestas de coníferas temperadas do oeste dos Estados Unidos e Canadá, os eventos extremos de incêndio aumentaram mais de onze vezes, de seis vezes em 2003 para 67 em 2023. As florestas boreais da América do Norte e as latitudes setentrionais da Rússia viram um aumento de 7,3 vezes em incêndios energeticamente extremos.

Os cientistas planejam examinar por que os incêndios nesses biomas foram tão extremos, mas Cunningham disse que suas descobertas são consistentes com os efeitos das mudanças climáticas, que tornam as condições mais quentes e secas nessas florestas e mais propícias a eventos extremos.

Essa escala de incêndios florestais ameaça não apenas comunidades próximas, mas também pessoas que vivem longe, pois a fumaça densa pode afetar significativamente a qualidade do ar ao viajar grandes distâncias.

"Os maiores eventos de fumaça vêm dos eventos de incêndio mais intensos", disse Jeffrey Pierce, professor de ciências atmosféricas na Universidade Estadual do Colorado. "Se você não tem como limpar o ar em sua casa ou procurar lugares que tenham sistemas de purificação de ar", a fumaça de incêndios florestais pode ter fortes efeitos na saúde.

Jennifer R. Marlon, cientista pesquisadora e professora na Escola de Meio Ambiente de Yale e do programa de comunicação sobre mudanças climáticas de Yale, disse que o estudo mostra que os humanos estão alterando os padrões de queima de florestas e pastagens muito além do que já ocorreu antes.

"Incêndios florestais maiores e mais severos são uma das manifestações mais óbvias de um planeta que está se aquecendo", disse Marlon, por e-mail. "Se pudermos ajudar as pessoas a entender melhor essa conexão, podemos ser capazes de construir apoio para agir mais rapidamente para reduzir a raiz do problema: a queima de combustíveis fósseis."

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