Rio Solimões tem 65% de chance de ficar abaixo da mínima histórica, alerta governo; veja previsões

Serviço Geológico do Brasil divulgou nesta sexta (23) probabilidades dos efeitos da seca na bacia amazônica

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São Paulo

A bacia do Amazonas, maior bacia hidrográfica do mundo, poderá ter neste ano um cenário mais crítico do que em 2010 e 2023, quando a região registrou mínimas históricas dos rios, deixando comunidades indígenas e ribeirinhas isoladas.

É o que apontam os alertas de vazante divulgados pelo SGB (Serviço Geológico do Brasil) nesta sexta-feira (23). A instituição, ligada ao governo federal, monitora a região e calcula os níveis dos rios com base na série histórica de dados.

Vista de drone de casas na beira do rio com muitas partes secas
Leito seco do rio Solimões em 2023, próximo à comunidade indígena Porto Praia - Lalo de Almeida - 13.out.2023/Folhapress

O rio Solimões, que passa por 13 municípios do Amazonas, é apontado com a maior probabilidade de atingir níveis recorde de seca. Em Tabatinga (AM), o corpo hídrico tem 65% de chances de ficar abaixo do menor nível até então registrado (-86 cm, de 2010).

Na cidade de Fonte Boa (AM), tem 53% de chances de ser mais crítico que o recorde de mínima, de 8,02 m, de 2010, e, em Itapéua (AM), a probabilidade é de 32% de ficar abaixo de 1,31 m, marca histórica também atingida em 2010.

"O rio Solimões entrou num processo de intensificação das descidas. Nessa fase da estiagem, por exemplo, Tabatinga apresenta níveis considerados muito baixos para esta época, abaixo das mínimas e ainda há tendência de descida", explica Jussara Cury, pesquisadora em geociências do SGB.

Já o rio Purus, na região do município de Beruri (AM), tem a probabilidade de 34% de superar a mínima de 4,07 m (2023).

Quanto ao rio Negro, em Manaus, há 16% de probabilidade de redução abaixo da mínima histórica, de 12,70 m (2023).

E o rio Amazonas, em Itacoatiara (AM), outro ponto avaliado no estudo, tem 14% de chance de secar para além de sua baixa recorde (36 cm, em 2023).

"É só por meio da informação que podemos planejar e investir em ações de enfrentamento a eventos extremos", diz André Martinelli, gerente de hidrologia e gestão territorial da Superintendência Regional de Manaus.

No ano passado, além de isolamento em municípios, a seca dos rios causou deslizamentos de terra em margens de cursos d'água em locais como Tabatinga e Tefé. Na última cidade, foi também registrada a morte de centenas de botos pela baixa do nível e pela temperatura da água do lago de mesmo nome.

O ciclo da seca neste ano iniciou em junho, com o princípio da vazante, que deve atingir o pico nos rios Solimões, Negro e Amazonas em outubro.

Com a estiagem começando mais cedo neste ano, a Defesa Civil alerta a população para que faça estoques de água, alimentos e medicamentos, na intenção de enfrentar o período crítico.

Em 2023, os rios Negro, Solimões, Amazonas e Madeira atingiram suas mínimas históricas em alguns dos pontos de medição. Comunidades ficaram isoladas, sem água e acesso a comida. Roças se perderam pelo aquecimento excessivo do solo. O fenômeno das terras caídas, com a queda de barrancos e casas, se multiplicou.

Municípios da calha do Juruá, no Amazonas, já estão recebendo medicamentos e insumos para a saúde, como Guajará, Envira e Ipixuna. Nas localidades, o transporte fluvial já está sendo prejudicado devido à vazante dos rios.

A orientação da Defesa Civil do Amazonas é que a população se abrigue na sede dos municípios mais afetados, para que possa receber alimentos e evite ficar isolada.

A estiagem severa do ano passado foi resultado de uma combinação de fenômenos: a crise climática, que já provoca temperaturas acima do normal no planeta todo, o El Niño, que é um aquecimento acima da média no oceano Pacífico, perto da linha do Equador, e o aquecimento do Atlântico Tropical Norte.

Em nota, o governo do Amazonas afirma que, em julho, instituiu o Comitê de Enfrentamento à Estiagem, e decretou situação de emergência ambiental em 22 cidades do sul do estado e região metropolitana de Manaus.

A gestão Wilson Lima (AM) destaca ainda que aumentou em 55% o valor das diárias dos servidores que estão em campo e reforçou o efetivo para ações contra a seca e incêndios.

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