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09/08/2010 - 20h26

Governo e ONG divergem sobre dimensão de desmatamento

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CLAUDIO ANGELO
DE BRASÍLIA

O desmatamento na Amazônia em 2010 deve ser, pelo segundo ano consecutivo, um dos menores da história, indicam dados de monitoramento por satélite. A questão é se a cifra será a menor ou a segunda menor. Depende de para quem se pergunta.

O governo federal prevê uma queda recorde, com base em dados preliminares do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). A ONG Imazon fala em um aumento discreto em relação a 2009.

No ano passado, a taxa foi a mais baixa da história: 7.400 km2, o equivalente a "apenas" cinco vezes a área da cidade de São Paulo.

Ontem, os ministros Izabella Teixeira (Meio Ambiente) e Sergio Rezende (Ciência e Tecnologia) divulgaram dados que indicam uma queda de 49% entre agosto de 2009 e junho deste ano.

Segundo o sistema Deter, que detecta o desmate com maior velocidade, mas menor precisão, foram 1.808 km2 desmatados nesse período, contra 3.537 km2 nos 11 meses anteriores.

Rezende chegou a arriscar que o Prodes, sistema que dá a taxa oficial do ano, mostrará uma devastação "em torno de 5.500 km2".

Já o SAD, sistema desenvolvido pelo Imazon e que usa o mesmo tipo de imagem de satélite que o Deter, aponta um aumento de 8% no acumulado agosto-junho.

QUENTE E SECO

Adalberto Veríssimo, do Imazon, aposta que o número final ficará em torno de 8.000 km2. "É um ano muito quente e muito seco na Amazônia, além de ser ano de eleição", diz. "Vamos torcer para 5.000 km2, mas não bate com nada do que estamos vendo aqui", continua.

Se a previsão do governo se confirmar, será a primeira vez na história que o desmatamento amazônico cai em um ano de eleição.

Um dos fatores que podem explicar a divergência grande entre o SAD e o Deter é a mudança no perfil do desmate amazônico.

CAFÉ PEQUENO

Em vez de grandes derrubadas, concentradas no sul, sudeste e leste (o chamado "arco do desmatamento"), o que se vê hoje são derrubadas pequenas.

Elas estão concentradas sobretudo no eixo da BR-163 e na Terra do Meio, no Pará e no sul do Amazonas (único Estado que teve aumento no desmate no período).

Segundo Gilberto Câmara, diretor do Inpe, o número de desmatamentos menores de 50 hectares (limite de detecção do Deter) subiu de 30% do total na Amazônia em 2002 para 75% em 2009.

"O Inpe reafirma que não dá para afirmar que o desmatamento caiu 50% por causa do problema dos pequenos desmatamentos", declarou.

POMPA E CIRCUNSTÂNCIA

A divulgação dos dados de junho do sistema Deter foi feita com pompa e circunstância. A entrevista coletiva contava com dois ministros e um diretor do Inpe.

É um barulho incomum para um dado tão banal: a série anual do Deter, de 12 meses, só será fechada mesmo daqui a duas semanas. Os dados mensais têm sido simplesmente postados no site do Inpe, com uma explicação da ministra do Meio Ambiente à imprensa no mesmo dia.

E o Deter, como o próprio governo faz questão de frisar, não serve para fazer cálculo de área desmatada.

Izabella Teixeira, que assumiu o ministério no lugar do midiático Carlos Minc, tem dois motivos para dar tal tratamento ao número. O primeiro é o óbvio esforço de produzir fatos positivos no momento eleitoral. O segundo é a necessidade de obter visibilidade e apoio para o setor ambiental do governo numa hora delicada, a da discussão do Código Florestal.

CÓDIGO FLORESTAL

A ministra comprou briga contra o projeto de reforma da lei em tramitação na Câmara dos Deputados. De autoria do deputado federal Aldo Rebelo (PCdoB-SP), ele tem pontos que o ministério considera inaceitáveis, como a anistia a desmatadores e a redução das áreas de preservação permanente.

Teixeira quer propor um novo projeto de código, o que já despertou reação contrária do Ministério da Agricultura.

Há também uma insurgência dos pecuaristas da Amazônia contra o acordo entre os grandes frigoríficos e o Ministério Público, que barra a compra de carne vinda de área desmatada ilegalmente.

A ministra quer mostrar que as medidas do governo para conter o desmate têm dado resultado, e que o Brasil está a caminho de cumprir, com folga, sua meta de cortar o desmatamento em 80% até 2020 - a meta para este ano seria de 9.000 km2, e é improvável que o desmatamento chegue a tanto.

Mas, para isso, as medidas têm de ser mantidas, com um apoio fundamental: o de Luiz Inácio Lula da Silva.

 

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