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Descrição de chapéu The New York Times

Mais de um terço das mortes por calor estão ligadas à mudança climática, diz estudo

Pesquisa aponta que óbitos relacionados ao aumento de temperatura aumentaram 37%, em média

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John Schwartz
The New York Times

Mais de um terço das mortes relacionadas ao calor em muitas partes do mundo podem ser atribuídas ao aquecimento extra associado à mudança climática, segundo um novo estudo que defende a adoção de fortes medidas para reduzir as emissões de gases do efeito estufa para proteger a saúde pública.

A nova pesquisa, publicada nesta segunda-feira (31) na revista Nature Climate Change, foi realizada por 70 pesquisadores usando dados de grandes projetos nos campos de epidemiologia e modelagem climática em 43 países. Ela descobriu que as mortes relacionadas ao calor em estações quentes foram intensificadas pela mudança climática em 37% em média –os aumentos variam de 20% a 76%.

Alguns estudos anteriores realizaram análise semelhante em determinadas cidades durante ondas de calor específicas, mas o novo trabalho aplica essas ideias a centenas de locais e durante décadas para traçar conclusões mais amplas.

"É uma abordagem inteligente, judiciosa e reflexiva para se tentar entender como a mudança climática está modificando a mortalidade ligada ao calor", disse Kristie Ebi, professora no Centro para Saúde e Meio Ambiente Global na Universidade de Washington, que não participou do estudo.

O planeta já se aqueceu 1°C em relação aos tempos pré-industriais, e muito mais aquecimento está previsto, com resultados catastróficos, se as emissões de gases do efeito estufa como dióxido de carbono e metano não forem controladas.

"Vistas em conjunto, nossas conclusões demonstram que uma porcentagem substancial das mortes totais e relacionadas ao calor durante nosso período de estudo podem ser atribuídas à mudança climática induzida pelo ser humano", escreveram os autores.

Em muitos locais estudados, os cientistas descobriram que "a mortalidade atribuível já é da ordem de dezenas a centenas de mortes por ano" pelo calor relacionado à mudança climática.

A mudança climática aumentou a mortalidade total por todas as causas em até 5% em algumas partes do mundo, concluíram os autores, que detectaram esse aumento em todos os continentes habitados.

Enquanto as diferenças na mortalidade entre os lugares estudados são complexas e derivam de fatores diversos que incluem acesso a atendimento de saúde, assim como arquitetura, densidade urbana e estilo de vida, a pesquisa sugere indiretamente uma divisão entre regiões ricas e pobres.

A América do Norte e a Ásia Oriental, descobriram os pesquisadores, tendiam a uma porcentagem menor de mortes relacionadas ao clima; alguns países centro e sul-americanos tinham mais de 70% das mortes por calor atribuíveis ao aquecimento climático.

O novo trabalho surge entre uma série de pesquisas recentes sobre o estresse pelo calor e a desigualdade econômica, tanto nos EUA como em todo o mundo.

Enquanto pessoas de todos os lugares dependem cada vez mais do ar-condicionado, que pode estar contendo os índices de mortes enquanto contribui para as emissões que aquecem o planeta, a mudança climática também está prejudicando as redes de energia, com as falhas aumentando 60% desde 2015 nos EUA. Isso significa que a ajuda do ar-condicionado poderá se tornar menos confiável com o passar do tempo.

Ana Maria Vicedo-Cabrera, a principal autora do novo estudo e pesquisadora no Instituto de Medicina Social e Preventiva na Universidade de Berna, na Suíça, disse que o estudo mostra que a mudança climática não é apenas um problema para o futuro.

"Estamos pensando nesse problema da mudança climática como algo que a próxima geração enfrentará", disse. "Mas é algo que já estamos enfrentando. Estamos jogando pedras em nós mesmos."

O futuro parece ainda mais sombrio, ela acrescentou. "Esse problema vai se ampliar. Realmente precisamos fazer alguma coisa."

Ebi concorda. "A mudança climática já está afetando nossa saúde", disse ela, notando que "essencialmente, todas as mortes relacionadas ao calor são evitáveis".

Muito depende de decisões, disse ela; as comunidades precisam se adaptar ao calor através de medidas como centros de resfriamento e planos de ação para ajudar os mais vulneráveis. "Em longo prazo, há muitas opções que vão afetar nossa futura vulnerabilidade, incluindo reduzir as emissões de gases do efeito estufa", acrescentou.

Como os cientistas não puderam reunir dados confiáveis em algumas partes do mundo, como certas regiões da África e da Ásia Meridional, Vicedo-Cabrera relutou em dizer que a média de mortalidade encontrada pelos pesquisadores pode ser aplicada ao mundo todo. "Essa estimativa que obtivemos não pode ser aplicada a áreas onde não avaliamos."

Essas lacunas precisam ser preenchidas, afirmou um comentário publicado juntamente com o trabalho. "Os países onde não tivemos os dados de saúde necessários são muitas vezes os mais pobres e mais suscetíveis à mudança climática, e, de forma preocupante, também são os pontos quentes de futuro crescimento projetado da população", disse.

"Obter esses dados será vital para a ciência fornecer a informação necessária para ajudar esses países a se adaptar", disse o comentário, elaborado por Dann Mitchell, cientista climático na Universidade de Bristol (Reino Unido).

Segundo Mitchell, o maior peso das ondas de calor ligadas à mudança climática em sociedades como a indiana, onde muitas pessoas já vivem em condições de superlotação e pobreza e os serviços de saúde já estão esgotados, poderá criar "algo que não é sustentável".

"Isso vai quebrar em algum momento", disse.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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