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Descrição de chapéu desmatamento

Garimpeiro fraudou licença e promoveu devastação ambiental no Norte do país, diz PF

Polícia aponta 192 hectares de mata devastada em um dos locais explorados irregularmente por grupo empresarial

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Brasília

Com uma licença que permitia apenas fazer pesquisa, empresários teriam extraído ouro ilegalmente e devastado extensa área de floresta no Norte do país, segundo a Polícia Federal.

"Embora se trate de uma simples autorização de pesquisa, verifica-se que os investigados vêm, de fato, explorando ilegalmente o local", afirmaram os policiais no inquérito que respaldou a Operação Ganância, uma das três ações deflagradas contra o grupo na quinta-feira (7).

Conforme mostrou reportagem da Folha, um dos suspeitos, o empresário Márcio Macedo Sobrinho, sócio da Gana Gold, atual M.M Gold, esbanjava uma vida de luxo.

Informações colhidas pela PF revelaram movimentações milionárias em suas contas e gastos com helicópteros, lanchas, caminhonete importada e uma festa de casamento embalada ao som de duplas sertanejas famosas.

Márcio Sobrinho aparece em foto com caminhonete importada - Divulgação/PF

A polícia estima que as empresas ligadas a Sobrinho tenham movimentado cerca de R$ 16 bilhões entre 2019 e 2021.

A apuração aponta que o grupo não contava com autorização de lavra para realizar a atividade exploratória em uma área vinculada ao município de Itaituba (PA). A lavra é o tipo de licença expedido pelo poder público que permite a extração de minério.

Possuía apenas uma GU (guia de utilização), expedida em março de 2020, "de caráter excepcional, não podendo ser confundida com a autorização final", afirmou a polícia. Os investigadores disseram que o caráter de excepcionalidade não foi observado pelos suspeitos.

"Existe intensa atividade no local que claramente supera a de mera pesquisa, havendo inclusive movimentação expressiva de caminhões."

Para ilustrar a suspeitas levantadas contra o grupo empresarial, a PF anexou aos autos fotos aéreas de uma área de aproximadamente 192 hectares.

Imagens mostram trechos de mata devastada. Na área foram construídos barracos, galpões e outras estruturas utilizadas para exploração do local. O registro fotográfico revela também a existência de um lago de rejeitos, outro indício da atividade exploratória.

A polícia estima em R$ 300 milhões o impacto ambiental causado pela atuação do grupo suspeito na região de Itaituba, considerando o desmatamento, assoreamento de cursos d’água e contaminação por mercúrio.

Área de floresta no Pará de quase 200 hectares devastada pelo grupo investigado por exploração ilegal de ouro no norte do país, segundo inquérito da PF que respaldou a Operação Ganância - Reprodução/Inquérito da Polícia Federal

Em março de 2020, segundo informou a PF, a ANM (Agência Nacional de Mineração) emitiu uma guia de utilização em nome da Gana. O processo foi iniciado em 2016.

O perito responsável pela análise do caso identificou valores incompatíveis de comercialização do ouro que superam em até 33 vezes o teor estimado de aproveitamento do produto na pesquisa mineral.

Até agosto de 2021, em apenas um ano e cinco meses, a Gana "registrou o comércio de um total correspondente de 3.998.223 g (três milhões, novecentos e noventa e oito mil, duzentos e vinte três gramas) de ouro ou, aproximadamente, 4 t (quatro toneladas)".

Isso representa, segundo a PF, um aumento de cerca de 2.380% em relação à produção anual informada na guia de utilização, que previa cerca 96.519,16 gramas de ouro a cada 12 meses.

"Assim, nesse período, a produção deveria ter sido 160.865,72 g (cento e sessenta mil, oitocentos e sessenta e cinco gramas e setenta de dois centésimos) de ouro e não quase quatro toneladas", afirmou a polícia.

De acordo com a investigação, a Gana Gold "esquentava" o ouro extraído ilegalmente em garimpos da região Norte. Para isso, ela se valia de licenças ambientais inválidas, extrapolando os limites de pesquisa que possuía.

A empresa não foi encontrada pela reportagem para comentar as acusações.

Ao se debruçar sobre os dados financeiros do grupo empresarial liderado pela Gana Gold, a PF diz ter descoberto que dezenas de investigados "movimentaram quantias milionárias e demonstraram possuir elevado patrimônio".

Eles também ocultavam os valores provenientes do crime, e alguns deles solicitaram e receberam o auxílio emergencial do governo federal durante a pandemia.

"Foi revelada uma movimentação de quantias bilionárias pelo grupo criminoso, com depósitos e saques milionários em espécie, empresas de fachada e transferências bancárias entre envolvidos", afirmou a polícia.

Em um documento anexado ao pedido de buscas e prisões, a PF detalha por meio de fotos como um dos empresários gastava parte do dinheiro oriundo do garimpo ilegal.

O casamento de Sobrinho por exemplo, teve duas duplas sertanejas famosas como atração. Bruno e Marrone, dos clássicos "Dormi na Praça" e "Choram as Rosas", e Jads e Jadson cantaram no evento.

"De acordo com sites abertos, o cachê da primeira dupla é de aproximadamente R$ 220 mil e o da segunda chega a R$ 80 mil, valores elevados gastos apenas com as bandas do casamento", diz a PF.

Os investigadores também elencam no documento fotos de bens de luxo do empresário, todos com um adesivo com sua logomarca particular: a MM, primeiras iniciais do seu nome.

Entre as fotos juntadas no relatório pelos investigadores estão uma lancha com o nome "Garimpeiro", caminhonete importada, helicóptero e aviões.

Outro bem que a PF aponta para a vida de luxo de é a mansão em Novo Progresso (PA).

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