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Descrição de chapéu The New York Times

Micróbios apontam o caminho para naufrágios

Naufrágios são invasores no fundo do oceano, mas a invasão se torna bem-vinda

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The New York Times

Ao largo da costa do Mississippi, sob 1.200 metros de água, um iate se desintegra lentamente. Criaturas marinhas passam, se penduram e se arrastam perto do casco naufragado, imperturbado há 75 anos.

Mas há mais do que podemos enxergar no caso desse e de outros naufrágios: agrupamentos distintos de micróbios habitam o fundo do mar ao redor dessas estruturas, ajudando a transformá-los em recifes artificiais cheios de vida.

Os naufrágios são invasores no fundo do oceano, mas a invasão gradualmente se torna bem-vinda, pois várias formas de vida marinha buscam refúgio entre o aço e a madeira.

Microrganismos na proa do naufrágio Anona, no Golfo do México, analisado por pesquisadores do Mississippi - Deep Sea Systems International’s Global Explorer ROV/Bureau of Ocean Energy Management/The New York Times

“Animais macroscópicos que habitam naufrágios só existem graças a formas de vida muito menores”, diz Leila Hamdan, ecologista microbiana marinha da Universidade do Sul do Mississippi.

Isso porque micróbios como bactérias e arqueas revestem as superfícies em uma camada pegajosa, uma biopelícula que atua como atração química e física para criaturas maiores, como cracas e corais.

A equipe de Hamdan pesquisa como a presença de um naufrágio afeta comunidades microbianas. Essa é uma área de estudo de nicho que abrange arqueologia, biologia, ecologia e ciências marinhas. “Até onde sabemos, somos os únicos a fazer isso hoje.”

Em setembro de 2018, Hamdan e colegas partiram a bordo de um navio de pesquisa e, a 110 km da costa, baixaram um veículo operado remotamente para analisar o Anona, naufrágio descoberto nos anos 1990.

O iate de 35 metros, suntuosamente revestido de mogno e teca, com um piano no salão, afundou em 1944. (A tripulação de nove pessoas embarcou numa balsa e flutuou por dois dias antes do resgate.)

O veículo dos cientistas continha tubos plásticos transparentes, do tamanho de uma garrafa de água, que mergulhavam no fino sedimento cinza do leito marinho, a diferentes distâncias do casco, para coletar material —na proa, a estibordo e bombordo.

No ano passado, trabalho de campo semelhante foi feito em dois outros locais de naufrágios no Golfo do México.

De volta ao laboratório, a equipe extraiu o DNA microbiano dos núcleos, sequenciou o material genético e descobriu que o microbioma do leito marinho variava de acordo com a distância do Anona.

Isso é algo que não havia sido demonstrado antes, segundo Hamdan. “Um naufrágio muda materialmente a biodiversidade do fundo do mar.”

Perto de veleiros de madeira, os cientistas descobriram bactérias que degradam a celulose e a hemicelulose, alguns dos principais componentes do material —talvez eles estejam se alimentando do naufrágio, segundo a equipe.

Os microbiomas de diferentes naufrágios também são distintos um do outro, o que levanta a questão de saber se a profundidade da água desempenha um papel na comunidade microbiana.

Não se sabe se esses micróbios foram transportados para o fundo do mar ou se estavam lá o tempo todo e as condições se tornaram propícias ao seu florescimento depois que um navio afundou.

“Essa é a pergunta de US$ 1 milhão em ecologia microbiana”, diz Hamdan.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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