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Fóssil sugere que mamíferos jurássicos cresciam mais lentamente e morriam velhos

Cientistas encontraram um padrão de envelhecimento inesperado em um esqueleto do período paleontológico

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Jack Tamisiea
The New York Times

Pequenos mamíferos frequentemente vivem rápido e morrem jovens. Roedores e musaranhos amadurecem rapidamente, acasalam-se em questão de meses e geralmente morrem em um ou dois anos. Alguns ratos gigantes batem as botas em apenas seis meses.

Os pequenos mamíferos, porém, nem sempre morreram tão rapidamente. Recentemente, pesquisadores analisaram um par de esqueletos fossilizados pertencentes a um mamífero do tamanho de um rato que viveu entre os dinossauros durante o período Jurássico. Suas descobertas, publicadas no último dia 24 na revista Nature, revelam que essas criaturas viveram por muito mais tempo e cresceram mais lentamente do que seus descendentes de tamanho semelhante.

Os dois espécimes foram descobertos décadas atrás na ilha de Skye, na Escócia. Essa ilha rochosa era lar de lagoas pantanosas cercadas por florestas densas há 166 milhões de anos. Dinossauros saurópodes pisavam na lama e pterossauros voavam acima. Correndo sob seus pés estava uma variedade de parentes de mamíferos mesozoicos.

Pequeno mamífero Krusatodon kirtlingtonensis viveu entre os dinossauros durante o período Jurássico - Ilustração Maija Karala/NYT

Krusatodon kirtlingtonensis estava entre esses mamíferos ancestrais. A espécie era anteriormente conhecida apenas por dentes fossilizados. Os dois espécimes recém-descritos fornecem uma imagem mais completa do Krusatodon, que se assemelhava a um gambá em miniatura e pesava menos que um disco de hóquei.

O maior dos espécimes de Krusatodon foi descoberto na década de 1970 e o menor, em 2016 pela paleontóloga Elsa Panciroli, do National Museums Scotland e autora principal do novo estudo, pela sua equipe. Ele é o único esqueleto relativamente completo de um mamífero jurássico juvenil conhecido pela ciência.

Panciroli disse que ficou encantada "ao perceber que os dois eram um adulto e um juvenil da mesma espécie".

Segundo a paleontóloga Stephanie Pierce, da Universidade Harvard, que não esteve envolvida no estudo, os fósseis também são notáveis pela forma como foram preservados, "em três dimensões, o que é raro para essa parte da árvore evolutiva dos mamíferos". A maioria dos mamíferos fossilizados desse período está achatada em lajes de pedra, obscurecendo detalhes cruciais sobre como se moviam e viviam.

A equipe fez tomografias computadorizadas de alta resolução para comparar os dois esqueletos fósseis. Para determinar a idade em que cada Krusatodon morreu, os pesquisadores analisaram anéis de tecido dental mineralizado chamado cemento. Esse tecido é depositado em incrementos conforme o animal envelhece, deixando faixas claras e escuras ao redor das raízes do dente. Cada par de faixas claras e escuras geralmente representa um ano, tornando a estimativa da idade de um mamífero antigo semelhante à contagem de anéis de árvores.

A paleontóloga Elsa Panciroli, do National Museums Scotland, com fóssil de Krusatodon kirtlingtonensis - Duncan McGlynn/NYT

As faixas de cemento revelaram que o Krusatodon adulto tinha cerca de sete anos quando morreu -- uma idade avançada em comparação com mamíferos vivos de tamanho semelhante. O juvenil, que era aproximadamente a metade do tamanho do adulto, tinha entre sete meses e dois anos de idade. Surpreendentemente, este Krusatodon ainda estava no processo de substituir seus dentes de leite quando morreu.

"Não esperávamos que fosse um juvenil tão velho", disse Panciroli. Com base em seu tamanho, "você esperaria que ele substituísse seus dentes em semanas ou meses, não em dois anos".

Outras pesquisas mostraram que a maioria dos pequenos mamíferos perdia seus dentes de leite em questão de meses. Isso tornava o Krusatodon mais semelhante a mamíferos como os hiracoides, uma criatura que se assemelha a uma marmota mais de 20 vezes maior. São necessários anos para que os dentes permanentes cresçam nos hiracoides, que podem viver por uma década.

O longo período de substituição dos dentes, juntamente com a idade avançada do Krusatodon, levou a equipe a concluir que esses mamíferos antigos desfrutavam de longos períodos de vida.

Isso provavelmente estendeu seu período de crescimento. A maioria dos mamíferos modernos experimenta um crescimento rápido no início da vida antes de atingir um platô ao se aproximar do tamanho adulto. Krusatodon e outros mamíferos do início do Mesozoico podem ter crescido lentamente ao longo de suas longas vidas.

No entanto, o Krusatodon ainda exibia alguns aspectos do desenvolvimento mamífero. O jovem possuía aproximadamente metade de seus dentes adultos, o que significava que havia se desmamado recentemente do leite de sua mãe. Outros fatores, como o crescimento dos dentes, também aparentemente se assemelham aos mamíferos vivos. "Embora estejam crescendo mais lentamente, a maneira como estão crescendo parece ser muito semelhante aos mamíferos atuais", disse Panciroli.

Determinar quando o processo de crescimento mamífero acelerou é difícil. Panciroli diz acreditar que o desenvolvimento provavelmente foi acelerado à medida que o metabolismo dos mamíferos aumentou e eles se tornaram de sangue quente. Esses traços surgiriam mais tarde na Era Mesozoica e ajudariam os primeiros mamíferos a adotar estilos de vida mais exigentes energeticamente, que incluíam nadar e planar.

Pierce acrescentou que mais fósseis de mamíferos mesozoicos são necessários para entender melhor como os primeiros mamíferos se prepararam para uma dominação global. Tais espécimes "serão essenciais para desvendar os fatores que impulsionaram o sucesso e a diversidade ecológica dos mamíferos que vivem hoje".

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