Jornalista, atuou como repórter e editor. É autor de "Dicionário Amoroso do Rio de Janeiro".
Ciganos cariocas
Rio do século 18 ganha vida na obra de Alberto Mussa
Já é assinante? Faça seu login
Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:
Oferta Exclusiva
6 meses por R$ 1,90/mês
SOMENTE ESSA SEMANA
ASSINE A FOLHACancele quando quiser
Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.
É sexta-feira, 13. Novembro de 1733. Faz uma noite quente, o céu está sem nuvens e a lua declina sobre o horizonte. Metida no burel cinzento dos franciscanos, uma mulher caminha entre as covas rasas do cemitério de pretos que fica dentro dos limites do convento de Santo Antônio. Ao alcançar a rua do Egito, vê dois homens discutindo, um deles com trajes à espanhola: casaca de duas caudas, calções estufados, meião de seda até os joelhos, sapatos de fivela metálica e chapéu de três bicos. Eles brigam, e ouve-se uma detonação de pistola.
Assim começa o romance “A Biblioteca Elementar” (Record), de Alberto Mussa. Sua recente publicação encerra o que autor denominou “Compêndio Mítico do Rio de Janeiro”, composto por mais quatro títulos, que podem ser lidos de maneira independente e em qualquer ordem, todos abordando um crime, transgressão que define a cidade em seus 450 anos de existência.
Na época em que se passa a ação, a rua do Egito —atual rua da Carioca— tinha 19 casas, todas de frente para o morro de Santo Antônio, enfileiradas só de um lado, à direita de quem subia da praia. Perto, havia tabernas e estabelecimentos ilegais, as chamadas casas de alcouce e tavolagem, onde se praticava o jogo e a prostituição e se combinava o contrabando de ouro e o tráfico de escravos. Um das regiões mais inseguras do Rio no século 18 —donde se pode constatar que nossa vizinhança com o perigo não vem de agora.
No entanto, era irresistível viver ali, em ambiente de música, dança, camaradagem e —sim, senhor— trabalho. Tanto que, na imaginação do autor, na rua moravam ciganos. Logo eles, que não param em lugar algum. Foram seduzidos pela água do rio Carioca que jorrava do chafariz no largo ou pelos pecados tropicais.
É espantoso como Alberto Mussa dá vida ao cenário setecentista. Uma vida pulsante que desapareceu nos dias de hoje. A rua da Carioca precisa voltar a honrar o nome.
Receba notícias da Folha
Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber
Ativar newsletters