Jornalista, atuou como repórter e editor. É autor de "Dicionário Amoroso do Rio de Janeiro".
Crivella, o último da fila
Nenhum governante na história do Rio construiu uma imagem tão negativa
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Fundador da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro e primeiro governador-geral, Estácio de Sá não devia ser muito estimado: foi ferido por uma flecha envenenada que lhe vazou o olho durante uma batalha na praia do Flamengo, morrendo um mês depois, em 1567.
Contra António Salema, que governou entre 1575 e 1578, pesa a acusação de ter espalhado pelas margens da lagoa Rodrigo de Freitas, então ocupadas por índios tamoios, roupas que haviam sido usadas por doentes de varíola. Para atravessar uma ponte sobre o rio Carioca, na altura de onde hoje fica a praça José de Alencar, Salema instituiu o primeiro pedágio.
Em 1711, Francisco de Castro Moraes, de apelido o Vaca, permitiu que o Rio fosse tomado pelo corsário francês Duguay-Trouin, entregando a cidade a Santo Antônio e fugindo. Os moradores pagaram o resgate em cruzados de ouro, caixas de açúcar e bois. A expressão "no tempo do Onça" diz respeito ao capitão-geral Luís Vahia Monteiro, que exerceu o poder entre 1725 e 1732, sempre a reclamar da vida. Chegou a dizer em carta ao rei de Portugal que "nesta terra todos roubam, menos eu". Pois sim.
Carlos Sampaio arrasou o morro do Castelo, em 1922, num evento comercial que causou enorme prejuízo histórico e destruiu a maior referência simbólica e sentimental do Rio.
Em tempos mais recentes, houve a lista de biônicos, nomes que se tornaram inesquecíveis para os cariocas: Marcos Tamoyo, Israel Klabin, Marcello Alencar. Saturnino Braga teve dignidade na desdita: faliu a cidade, mas assumiu o erro. Três vezes prefeito, César Maia inventou os factoides, versão amena das fake news. Dando uma de maluco, vestia casaco no calor de 40 graus; entrava num açougue e pedia picolé.
Nenhum deles construiu uma imagem tão perfeita quanto o ex-surfista Marcelo Crivella, que entrará para a história como o pior prefeito do Rio. Adeus.
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