Siga a folha

Jornalista, atuou como repórter e editor. É autor de "Dicionário Amoroso do Rio de Janeiro".

Bolsonaro e Collor

Indicação para ministro reúne os dois governos mais catastróficos do país

Assinantes podem enviar 5 artigos por dia com acesso livre

ASSINE ou FAÇA LOGIN

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

Pelas mãos de Luiz Carlos da Vila, numa tarde de sábado fui aceito no paraíso: uma vila no subúrbio de Osvaldo Cruz onde se reunia parte da Velha Guarda da Portela para tocar, cantar e comer tripa lombeira. Era o ano de 1989, véspera de eleições, mas o importante ali era o samba, a confraternização entre amigos.

Na época Luiz Carlos usava boné e peruca. Em frente à casa da pastora Surica estavam Manacéa, Casquinha, Alberto Lonato, Osmar do Cavaco, Cabelinho, a cantora e pesquisadora Cristina Buarque, o produtor cultural Lefê Almeida e, a tudo observando com admiração, o empresário Katsunori Tanaka, responsável por lançar dois discos da Velha Guarda no Japão ("Doce Recordação" e "Homenagem a Paulo da Portela").

Na hora do rango, a conversa se desviou para a campanha presidencial que inflamava o país. Manacéa, líder dos veteranos sambistas e sempre de poucas palavras, nesse dia abriu o verbo, com voz baixa e pausada: "Muito me admira que gente aqui vá votar no Collor. São todos macacos velhos, alguns metidos a malandro, e estão caindo na enganação desse sujeito que se vende como caçador de marajás. Depois não venham dizer que santo Antônio me enganou". Houve resmungos, mas ninguém rebateu o pequeno discurso.

Deu no que deu: confisco de poupança, casal de pombinhos dançando bolero de rosto colado, escândalos de corrupção, supositórios, caras-pintadas, renúncia. Collor de Mello é hoje um senador de cabeleira branca, com Lamborghinis e Ferraris na garagem. Indicado pelo centrão, pode assumir as Relações Exteriores, na última humilhação imposta a Ernesto Araújo. Não deixa de ser uma maneira original de unir os dois governos mais catastróficos na história recente do Brasil.

Nessa altura, tirar este ou aquele ministro não muda nada; o problema é Bolsonaro, que continua. Se bem que Collor e impeachment, ó, tem tudo a ver.

Velha Guarda da Portela na vila de Osvaldo Cruz; no centro, de boné, Luiz Carlos da Vila. - Alvaro Costa e Silva/ Acervo Pessoal

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas