Jornalista, atuou como repórter e editor. É autor de "Dicionário Amoroso do Rio de Janeiro".
Um peladão na pandemia
Homem nu mostra mais coragem e vontade de combater o vírus do que Cláudio Castro
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Por ali, ao redor do Paço Imperial, do Arco do Teles e do chafariz de mestre Valentim, costumam acontecer coisas fantásticas, sobretudo à noite. Mas, em plena tarde, um homem nu, escalando calmamente uma estátua, no movimentado Centro do Rio? Ele subiu no monumento a Osório, inaugurado em 1894, montou no cavalo tão bem cinzelado que parece vivo e, megafone na mão, deu seu recado: "Só saio daqui quando for vacinado!".
Suspeitou-se a princípio que o cidadão, fornido de carnes, tivesse se demorado a almoçar no Escondidinho, no beco dos Barbeiros, ou na Toca do Baiacu, na rua do Ouvidor, e neles tivesse se demorado também a beber cervejas, vinhos e licores. Mas não, apresentava a voz clara, a cara limpa. Aliás, limpo de corpo inteiro, como se pôde comprovar a distância.
Do alto, revelou sua identidade: "Sou Napoleão!". Sem largar os celulares para o registro da cena, a galera não perdoou: "Desce daí, ô maluco!". Não faltou o tradicional "Pula! Pula! Pula!". Preso por agentes de segurança por ato obsceno, disse em sua defesa que se tratava de uma manifestação artística. Ou —digo eu— um protesto pacífico, um ato carnavalesco de desobediência civil.
O peladão da praça 15 mostrou coragem. Coragem que falta ao governador. Em busca de vantagem política, o bolsonarista Cláudio Castro é contra tomar medidas mais duras para conter a transmissão do vírus e o colapso dos hospitais. Ele se desentendeu com o prefeito, Eduardo Paes, que está a favor delas. Castro decidiu promover um "superferiadão" (ou uma "Castrofolia", segundo ironizou Paes), permitindo o funcionamento de bares e restaurantes. A confusão é geral.
A imagem deste fim de semana —praias desertas sob o sol— carrega forte simbolismo. Mas, na prática, equivale à do homem nu em cima do cavalo. Espetacular para uma foto de primeira página, mas ineficaz contra a peste.
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