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Julio Wiziack é editor do Painel S.A. e está na Folha desde 2007, cobrindo bastidores de economia e negócios. Foi repórter especial e venceu os prêmios Esso e Embratel, em 2012

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Descrição de chapéu tecnologia

Demora do governo leva única fábrica de fibras ópticas a fechar as portas

Prysmian pede política antidumping contra empresas da China; OUTRO LADO: Ministério nega demora

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São Paulo

A italiana Prysmian, dona da única fábrica completa de fibras ópticas da América Latina, afirma que vai fechar a unidade de Sorocaba (SP) em dois meses se o governo Lula não criar barreiras contra a importação da China.

Raul Gil Boronat, CEO da Prysmian no cone Sul, diz que a companhia está "sangrando" há dois anos, sem chances de se recuperar contra as práticas chinesas consideradas abusivas.

A Prysmian é uma das maiores fabricantes de fibra óptica do mundo
A Prysmian é uma das maiores fabricantes de fibra óptica do mundo - Alessandro Bianchi - 20.dez.13/REUTERS

No fim do ano passado, a companhia chegou a realizar demissões temporárias com a expectativa de que o mercado se reestabelecesse, mas a situação piorou.

"Se não acontecer um milagre nos próximos dois meses, vamos fechar a fábrica em julho", afirmou Boronat ao Painel S.A..

Atualmente, um quilômetro de fibras importadas da China custam US$ 2,50 contra US$ 6, preço da fibra produzida pela Prysmian no Brasil.

Em janeiro de 2019, por exemplo, as fibras chinesas circulavam no mercado acima dos US$ 7, porém os preços caíram para US$ 3 na pandemia.

Ao longo de 2022, os preços ficaram acima de US$ 4 e caíram a partir de setembro do ano passado.

Para os diretores da companhia, fatores como alto estoque das empresas asiáticas e os subsídios do governo da China explicam a diferença de preços.

Recentemente, países como EUA, México e França aplicaram medidas antidumping (elevando alíquotas) para proteger a indústria local, fazendo com que fabricantes chinesas corressem para mercados sem barreiras, como o brasileiro.

Nos últimos dois anos, a alíquota de importação no Brasil caiu de 14% para 9%. No México, que adotou posição inversa, a alíquota subiu para 35%.

"O que queremos é uma concorrência de forma correta. Se tivermos a diferenciação tributária que a maioria do mundo tem, vai nascer a necessidade de investimentos para aumentar a nossa produção de fibra óptica", diz Emerson Tonon, CEO da Prysmian no Brasil.

Corrida em Brasília

A companhia pleiteia no governo pedidos de defesa comercial (processo antidumping) e de elevação tarifária através da Lebit (lista de exceção de bens de informática e de telecomunicações).

Como mostrou o Painel S.A., em junho de 2023, Prysmian, Cablena e Furukawa —companhias que recebem fibras da Prysmian— denunciaram ao governo abusos da política de incentivos da China nas exportações de cabos ópticos entre 2021 e 2022.

Desde então, o governo instaurou procedimentos para averiguar a existência de subsídios e diversas reuniões foram realizadas nos ministérios de Ciência e Tecnologia e no da Indústria. Mas nada avançou.

Na semana passada, a companhia protocolou um novo processo antidumping contra as empresas chinesas na Secex (Secretaria de Comércio Exterior).

Desta vez, além do pedido anterior contra os cabos ópticos, a empresa pediu investigação para a fibra, que é a matéria-prima principal.

"O país ficará refém da China em fibra óptica. Isso é totalmente contra a política do governo, que quer valorizar a indústria tecnológica nacional", diz Inaiê Reis, diretora jurídica da companhia para a América Latina.

No mês passado, o deputado federal Vitor Lippi (PSDB-SP) entrou no circuito de pressão contra a política de subsídios chinesa e articulou reuniões com o secretário-executivo do Ministério da Indústria, Márcio Elias Rosa.

Lippi pede rapidez do governo. Isso porque, nos dois pedidos de antidumping dos cabos ópticos e contra os subsídios, ambos feitos em outubro de 2022, as investigações demoraram pelo menos sete meses só para serem iniciadas.

Inconsistências

Procurado, inicialmente o Ministério da Indústria disse que os pedidos de defesa comercial são resguardados por sigilo. Nesta terça (7), após a repercussão do caso, a pasta esclareceu que "não procede a informação de que o governo esteja demorando em atender os pleitos" da Prysmian. Explicou que o pedido de antidumping mais recente foi feito há sete dias, enquanto os pleitos da Lebit foram protocolados no último dia 23.

"Quanto aos pedidos de investigação de dumping para cabos de fibras ópticas (diferente de fibras óticas), foram protocolados no segundo semestre de 2022, mas havia dados incorretos, inverídicos ou inconsistentes no pleito, e as próprias empresas pediram para encerrar o procedimento, a fim de que as informações fossem corrigidas. Nova petição foi apresentada em 31 de janeiro de 2024 e está sob análise."

O Mdic também disse que o Brasil tem 135 medidas de defesa comercial aplicadas. Desde o início do governo Lula, foram iniciadas 40 investigações e outras 44 petições estão sob análise no Departamento de Defesa Comercial da Secex.

Com Diego Felix

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