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O sumiço dos pubs gays

Londres reage a impacto da especulação imobiliária e de aplicativos de paquera sobre bares

Homens com rosto pintado com as cores da bandeira do orgulho LGBT participam de parada em Londres em 2014 - Justin Tallis - 28.jun.2014/AFP

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Os pubs e bares gays estão desaparecendo de Londres numa velocidade assustadora. A cidade perdeu em pouco mais de 10 anos quase 60% dessas casas. Segundo a University  College  of  London, em 2006 a metrópole tinha nada menos do que 125 pubs, bares e boates LGBT+. Hoje, esse número despencou para míseros 53. E muitos deles continuam ameaçados de extinção.

Os dois principais motivos para o problema são os aplicativos de encontro e a especulação imobiliária desenfreada.

Hoje, é muito mais fácil encontrar pessoas para relacionamentos através da tecnologia do que na busca num bar. Uma pesquisa diz que nada menos do que 70% dos relacionamentos gays começam através de aplicativos. Com essa facilidade, os tradicionais pontos de encontro da comunidade LGBT+ estão perdendo clientes aos montes. E faturamento.

Com menos dinheiro entrando no caixa, os pubs e bares gays ficam mais vulneráveis às ofertas de construtoras de imóveis. Elas compram os prédios dos pubs e os reformam para outros fins. Ou os derrubam para erguer no lugar apartamentos pretensiosamente chiques e absurdamente caros. Confrontados com vultosas ofertas e enfrentando a concorrência dos aplicativos, os donos dos pubs não resistem e os vendem. E a cidade perde diversidade.

Para tentar amenizar o impacto, as autoridades de Londres estão tentando reagir. E algumas propostas são até surpreendentes.

A administração do bairro de Tower Hamlets, por exemplo, decidiu impor uma condição inédita: só aprovaria a construção de um bloco de apartamentos no lugar onde funcionava um pub gay, o Joiners  Arms, em Hackney, se a empreiteira garantisse que outro estabelecimento com as mesmas características fosse aberto no novo empreendimento. A construtora até fez uma oferta, dizendo que daria preferência para alugar o novo espaço para um pub  LGBT+. E nem cobraria aluguel no primeiro ano.

Mas houve a suspeita de que o lugar se transformaria simplesmente num espaço bem comportado, fechando à meia-noite para não importunar os donos dos luxuosos apartamentos. Nada parecido com o Joiners Arms. O pub original era famoso pelas baladas que varavam a noite, e a comunidade LGBT+ local exigia algo similar.

Depois de muita discussão, a administração rejeitou a oferta da construtora e negou a permissão para o empreendimento. Não havia garantias de que a diversidade seria preservada no lugar. Mas a discussão criou um importante precedente.

Agora o prefeito trabalhista Sadiq  Khan está propondo que outras áreas da cidade tomem medidas semelhantes às de Towers Hamlet. Segundo ele, é importante que Londres valorize sua noite e tenha muitas opções para todos. Trata-se de cuidar com carinho da diversidade e da cultura do lugar. Uma visão muito diferente de alguns políticos ultrapassados, desses que tentam sabotar festas e manifestações populares.

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