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Professora de sociologia da USP e pesquisadora do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento

Descrição de chapéu desigualdade de gênero

Ciência por quem e para quem?

É preciso estratégia específica para fazer avançar a inclusão

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Esta coluna foi escrita para a campanha #ciêncianaseleições, que celebra o Mês da Ciência. Em julho, colunistas cedem seus espaços para refletir sobre o papel da ciência na reconstrução do Brasil. Quem escreve é a professora da Unicamp Ana Maria F. Almeida.

A pandemia fez avançar a compreensão sobre como as desigualdades sociais afetam a ciência. Acompanhamos o esforço na produção dos conhecimentos necessários para desenvolvimento de vacinas, medicamentos, protocolos de atendimentos e, ao mesmo tempo, o impacto sobre as instituições de pesquisa e o trabalho de cientistas.

Foi uma rara oportunidade para enxergar que a produção científica não depende apenas de cada um dos indivíduos envolvidos, mas também da conexão entre eles e de uma ampla e complexa estrutura, que vai além das universidades e laboratórios.

Profissional de saúde prepara dose de vacina da Pfizer contra Covid na Cidade do México, em junho deste ano - Pedro Pardo/AFP

Desigualdades de todo tipo vieram à tona. Neste país em que mulheres estiveram na linha de frente da pesquisa sobre a Covid-19, as docentes da pós-graduação são tão ou mais numerosas que os homens em apenas 34% das áreas do conhecimento, conforme levantamento do GEMAA.

A representação é ainda menor no caso dos pesquisadores negros. Eles raramente chegam a 20% do corpo docente nas universidades públicas do Brasil e são cerca de 5% nas paulistas. Isso se reflete nas posições de liderança de grupos de pesquisa, aquelas que dão poder para definir temas, abordagens e metodologias.

Essas desigualdades afetam a ciência. Estudos indicam que oxímetros são menos precisos para indivíduos de pele escura. Sistemas de reconhecimento facial podem ser menos confiáveis para identificar mulheres e pessoas negras. Políticas econômicas, educacionais, sanitárias e outras que não levam em conta as desigualdades sociais quando concebidas podem agravá-las quando implementadas.

Uma ciência inclusiva diversifica os pontos de vista sobre o problema estudado e aumenta a chance de que efeitos sobre diferentes grupos sejam previstos adequadamente.

Mobilizar as variáveis sexo e gênero na pesquisa permitiu, por exemplo, compreender melhor algumas patologias cardíacas, desenvolver novas técnicas de diagnóstico que beneficiaram homens e mulheres e planejar estratégias de prevenção mais eficazes.

No Brasil, políticas sociais têm ampliado o acesso à educação básica, melhorado o desempenho do sistema educacional e diversificado a população estudantil universitária em termos sociais e étnico-raciais.

No mundo todo aumentou a escolarização feminina ao longo do século 20. Ainda há muito por fazer, mas as universidades contam hoje com um contingente estudantil, docente e técnico bem preparado e mais representativo da população do país.

É necessário que se desenvolva agora uma estratégia específica para fazer avançar a ciência inclusiva. Não é preciso reinventar a roda. Muitas iniciativas já foram testadas pelo mundo.

Compartilhar mais as tarefas de cuidado com crianças, enfermos, pessoas idosas e com deficiência e incentivar a equidade no recrutamento e na progressão na carreira, combatendo vieses inconscientes, por exemplo, são medidas de resultados rápidos.

É preciso também promover a incorporação das categorias de sexo, gênero, raça, etnia e posição social no próprio desenho das pesquisas, sempre que apropriado.

Mais conectadas com as desigualdades da sociedade brasileira, as universidades poderão continuar a contribuir para enfrentar os imensos desafios com que se depara a nação.

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