Repórter especial, escreve sobre religião, política, eleições e direitos humanos. Autora dos livros "O Púlpito" e "Talvez Ela não Precise de Mim"
Quem é esse tal de neopentecostal, rótulo que diz pouco dentro das igrejas evangélicas
Muito pouca gente de fora da igreja sabe do que está falando quando se refere ao termo
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Bem no espírito "antes tarde do que nunca", a Fundação Perseu Abramo, centro de estudos do PT, lançou uma cartilha com orientações para candidatos e militância do partido evitarem gafes conceituais ao lidar com evangélicos.
Um dos conselhos: não associar neopentecostal a fundamentalista, como se um fosse a salsicha do cachorro-quente do outro.
Acertadamente, o texto aponta que juízos radicais não são prerrogativa de um nicho evangélico em particular. Eles estão também na ala histórica do protestantismo, em outras religiões, em toda parte.
Vou além: muito pouca gente de fora da igreja sabe do que está falando quando se refere a neopentecostais. Quantas vezes você já ouviu que Silas Malafaia é um deles, por exemplo? Não é. Ele lidera uma Assembleia de Deus, colosso do pentecostalismo nacional.
Aliás, uma coisa que você não vai ouvir muito por aí: um evangélico se definindo assim. Se neopentecostal virou cacoete discursivo para etiquetar a banda podre do evangelicalismo, é sempre bom lembrar que o conceito nasceu como ferramenta de análise das ciências sociais, sem eco no cotidiano dos fiéis.
É como diz o pastor Ronilso Pacheco: pergunte a qualquer evangélico qual a sua denominação, e ele dirá, orgulhoso, que é batista, presbiteriano, luterano, metodista, pentecostal etc. "Nenhum, absolutamente nenhum, te dirá neopentecostal."
O próprio sociólogo que popularizou o termo, Ricardo Mariano, reflete se não é hora de mandar a expressão para o INSS acadêmico. Quando surgiu, ela ajudou a categorizar uma vertente pentecostal apegada à Teologia da Prosperidade, que defende vida próspera para já, não só para o Reino dos Céus. A Igreja Universal é o nome mais reluzente dessa turma.
Hoje, os rótulos empregados para falar de um bloco tão plural quanto o evangélico, sem um poder hierarquizado como o Vaticano, são usados "de forma intercambiável e confusa por diferentes grupos e mídias", segundo Mariano. As fronteiras entre os subgrupos dessa religião estão mais porosas, fica mais difícil reconhecer o que é o quê.
Tomemos de exemplo os batistas. Sabe quem é um? Nos EUA, os pastores Jerry Falwell, arquiteto da Maioria Moral, que fez um baião de dois entre direita cristã e Partido Republicano, e Martin Luther King, incontornável no movimento de direitos civis.
Por aqui, são batistas os bolsonaristas Josué Valandro Jr. (pastor de Michelle Bolsonaro) e André Valadão (aquele que, contra os LGBTQIA+, disse que, se Deus pudesse, "matava tudo e começava tudo de novo"). Também o são Ed René Kivitz e Henrique Vieira, faróis da minoria progressista evangélica.
Evangélicos, nunca é demais relembrar, têm uma maioria de mulheres negras e pobres. Generalizá-los sem sequer dominar os signos de sua fé denota um misto de ignorância e má vontade com notas de aporofobia.
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