O café da manhã é a refeição mais importante do dia, certo? Pois nossa reverência ao banquete matinal é, em parte, um touché do marketing. E tem um bocado a ver com lobistas do ramo de cereais e um ultrarreligioso do século 19.
Houve um tempo em que a Igreja Católica via a primeira boquinha do dia como convite ao pecado da gula. Essa percepção foi se flexibilizando e, com a Revolução Industrial, o pesado repasto do campo pesou no estômago das novas hordas urbanas.
Fiel da Igreja Adventista do Sétimo Dia, John Harvey Kellogg começou a servir flocos de milhos no sanatório que dirigia. Em 1894, nascia o corn flakes; 12 anos depois, o Sucrilhos.
O médico tinha duas coisas em mente, masturbação (“o vício solitário”, dizia) e cocô. Um alvo dos adventistas da época, afinal, era arrumar uma distração para o cidadão de bem acometido pela rija animação do despertar. Outro: ele “realmente estava interessado em fazer as pessoas defecarem”, e grãos eram bons para isso, explica a historiadora Heather Arndt Anderson.
O conceito de uma comida própria para as manhãs, e não sobras da véspera, popularizou no século 20 a ideia do tal rango protagonista.
Jair Bolsonaro não é bobo pra cair em trela de marqueteiro. Por meses limou de seu menu político o café da manhã com jornalistas, talvez por achar que prestar contas sobre seu governo lhe daria revertério pior que o pãozinho com leite condensado que tanto preza.
O jejum foi quebrado a dias do Natal, quando chamou repórteres para chupar manga numa prosa de duas horas e meia no Alvorada. Serviu só água e café. Passou um pano para a prole enquanto afastava moscas atraídas pelas mangueiras do palácio.
As cagadas que preocupavam o doutor Kellogg eram mais literais. Já as presidenciais têm o desarranjo de uma franquia estragada, se é que o chocolatier Flávio me entende. Em 2020, papai Bolsonaro terá fraldas de filho a trocar.
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