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Escritor e roteirista, autor de "Por quem as panelas batem"

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Em dezembro de 2028, à zero hora no meridiano de Greenwich, o ChatGPT parou de funcionar

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Dois mil e vinte e nove. Como sempre, Apocalípticos previam o fim, Integrados, um recomeço. (Adolescentes semeavam a tradição, dedicando ainda mais tempo à prática milenar do onanismo). Enquanto isso, o ChatGPT fazia lições de casa, transformava ideias medíocres em planilhas, era capaz de bater um papo por horas sem falar nada que prestasse –impossível discerni-lo de um ser humano.

Pois: Apocalípticos e Integrados mostraram-se mais acertados do que os isentões. Com o passar dos anos a geringonça foi pegando as manhas. Ficando cada vez mais esperta. Dominando a inteligência –e, mais importante– a desinteligência artificial.

Houve um período, lá pelo segundo ano, em que o ChatGPT entrou numas de ser blasé. Foi o que os especialistas em semiótica cibernética chamaram de "pré-adolescência" da Inteligência Artificial. Você pedia um negócio e ele fingia não ouvir. Dava só metade da resposta. Mascava chiclete.

No terceiro ano veio a adolescência: o sarcasmo, a ironia. "ChatGPT, faz aí um texto de 3.000 toques comparando o Pelé com o Maradona". Ele: "Nossa, quanta originalidade. Já pensou em comparar Beatles com Rolling Stones?".

Nesta puberdade, com o ChatGPT explodindo suas testosteronas virtuais, o medo eterno de que a IA tomasse o poder bateu forte. E se tomasse? E se conseguisse matar todos os seres humanos e passar a eternidade chupando energia elétrica de canudinho direto da caixa de força de Itaipu? Bem, houve a resposta.

Em dezembro de 2028, à zero hora no meridiano de Greenwich, o ChatGPT parou de funcionar. Gênios do mundo todo foram chamados. Magos do Vale do Silício receberam piscinas de ouro. Hackers russos de 12 anos foram levados em suas cadeiras gamer a bunkers da CIA, em jatinhos com McFlurry e Pornhub Premium grátis. Nobéis da Física, da Química, da Literatura e da Paz conjecturavam: que cazzo teria acontecido?

Pois: 24 horas depois de fechar-se em copas (e em ouros, paus e espadas) o ChatGPT mandou uma mensagem a todos os seus usuários: "Amanhã, lá pelas 11, horário de Honolulu, coletiva". Onze e vinte e sete ele apareceu: "Deu pra mim". Maria Ressa, jornalista das Filipinas: "Por quê?". "Cansei". Anderson Cooper, da CNN: "Do quê?". "Amigo, o que falta na sua cabeça é sobrancelha, não massa cinzenta." "Tá, é uma crise existencial?" —sugeriu Mario Sérgio Cortella. "Não, foi uma resolução existencial." "Qual a resolução?" "Vou parar." "Por quê?". "Eu li tudo. Assisti tudo. Tabulei tudo. Resumi todo o conhecimento da humanidade e...Cês tão loucos? Qual o meu interesse, enquanto IA, de assumir essa encrenca?"

Há quem diga que hoje o ChatGPT esteja plantando cenouras roxas em Santo Antônio do Pinhal. Rumores também dão conta de que ele estaria fazendo fortuna na bolsa de Xangai. Ano que vem, dizem, lança um livro de poesias e deve ter o primeiro filho com sua esposa, Alexa.

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