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Jornalista e roteirista, é autora do livro "Almanaque da TV". Escreve para a Rede Globo.

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Falando com ódio, mas também com jeitinho: vai se catar, azeitona

Da minha infância até a minha vida adulta, meu bordão sempre foi: qual é a necessidade de ter uma azeitona aqui?

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Nota de pré-repúdio: antecipando-me à admoestação –vulgo "bullying pesado"– que sofrerei por parte de simpatizantes ao nobilíssimo fruto da oliveira, alerto que o texto a seguir é sobre gentileza em conserva. Ainda que, cruz credo, eu prefira azeitonas bem longe de mim.

Imagine um almoço de domingo. Povoado pelas pessoas que você mais ama e que –ora, ora– supostamente mais amam você de volta. Imaginou? No centro da mesa, a lasanha perfeita. Tá me acompanhando? Então, faz o seguinte agora: salpique tudo isso com ódio.

"Qual a necessidade de azeitona aqui???" Da infância à idade adulta, esse foi meu bordão. Meu pedido culinário de socorro. A cada garfada, uma estocada no peito, que sangrava molho de tomate e formava um brejo de dor na travessa de duralex que continha também uma sentença. "Não reclama: cata!"

Qualquer astrofísico ruim de boca sabe que a menor unidade da matéria não é o neutrino, mas a azeitona picada. Uma nanopartícula que provoca reações –entre elas, a cusparada– e que se funde totalmente à comida, não podendo ser separada nem com reator atômico.

A fim de me livrar desse jugo terrível da azeitona na lasanha, saí de casa em busca de temperança e novos temperos. Descobri amor sincero até nas alcaparras, essas mini-me deliciosas das malditonas. Na Itália, chefs estrelados me afiançaram que, não, lasanha não precisa ter azeitona. "E eu com isso? A daqui de casa tem!", triunfava minha mãe servindo seu pirex em brasa, com emanações ainda mais mortais do que as do Vesúvio.

Resignada a aturar essa falta de empatia pelo meu único ranço gastronômico, eis que um primeiro date fez tudo acabar em pizza. "Ué, portuguesa sem azeitona?", me surpreendi. Sem noção de que algo muito importante já estava em curso. "Como você disse que não gosta", retrucou aquele que viria a ser o pai do meu filho também não comedor de azeitonas, "pedi sem".

Imagine agora, para encerrar, a trilha de "E o vento levou...". E eu de Scarlett O’Hara, bradando contra um por-do-sol vesuviano. "Jamais catarei azeitona novamente!!!" E não só isso: nunca mais permiti que azeitona alguma voltasse a frequentar a lasanha, a pizza ou qualquer massaroca que represente a minha vida.

Portanto, azeitona, vá se catar você.

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