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Doutora em ciência da informação, mestra em educação e jornalista. Autora de "Quando me Descobri Negra"

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Brasileiras e chilenas criam laboratórios para imaginar a política

Pesquisadoras lideram processos de mudanças institucionais com foco em gênero, raça e classe no comando administrativo municipal

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Como seria a política se a vida estivesse no centro? Não os interesses econômicos das elites, mas as pessoas? Mulheres chilenas, colombianas, uruguaias e brasileiras têm criado laboratórios de inovação cidadã para experimentar formas de cuidado comunitário.

Conversei com duas delas sobre a proposta: Fran Keller, chilena, que conheci em Madri em 2018, responsável pelo departamento de cidadania digital da cidade de Valparaíso, e Georgia Haddad Nicolau, diretora do Instituto Procomum, sediado em Santos, a quem acompanho com admiração há 15 anos.

Mulheres fazem marcha em 8 de março em Santiago, no Chile - Xinhua

Depois da importante onda de protestos que tomou o Chile em 2018 —e foi decisiva para a eleição de Boric em 2021— Fran Keller foi convidada para liderar processos de mudanças institucionais na prefeitura de Valparaíso, onde foi inaugurada a primeira diretoria de gênero, mulheres e diversidade, além do departamento de inovação cidadã.

Foi criado um equipamento público de três andares com atividades para o corpo, tecelagem, sala de leitura, espaço para crianças e sala de trabalho colaborativo, onde também é desenvolvido um programa para a autonomia econômica de mulheres e um programa de economia do cuidado.

A partir de suas trajetórias de vida, as frequentadoras do espaço participam de uma plataforma tecnológica chamada "Juntas decidimos", que permite tomar decisões participativas sobre o orçamento do município. Há feiras, encontros e metodologias para criar coletivamente projetos que busquem responder os problemas da comunidade.

"Há alguns anos reflito sobre como seria se a política institucional fosse antipatriarcal e mirasse, sempre, em tudo que faz, na reprodução da vida como centro. Não só como resultado, mas como processo, como modo de fazer", me disse Goergia Haddad Nicolau.

"A ideia de fazer laboratórios de inovação cidadã com foco em cuidado comunitário vem daí. Trazer para o centro dos espaços de formulação de políticas as pessoas que sustentam o mundo com comida, com cuidado, com dança, com mediação, com suporte, com redes."

Junto com o Instituto Procomum, a prefeitura de Valparaíso já atendeu mais de 4.000 mulheres cuidadoras, em atividades formativas para que compreendam questões de gênero, raça e classe, mas também possibilitando que participem da tomada de decisão política, definindo prioridades no município.

Aos 39 anos, em meio à iniciativa, Fran Keller, mãe pela segunda vez, tirou sua licença maternidade. A jovem feminista Analicia Aldana, de 27 anos, assumiu as rédeas do projeto e garantiu sua continuidade e aprimoramento.

"Feminismo na prática, solidariedade entre as mulheres, compromisso e conhecimento sobre a gestão pública", me disse Fran Keller, na certeza de que o projeto também inova nos modos de fazer, contornando as disputas egóicas que tantas vezes emperram políticas públicas.

No retorno de Fran, Analicia foi promovida e assumiu a responsabilidade da temática de gênero, mulheres e diversidade, e Fran, sua parceira, ficou com a cidadania digital. Elas têm praticado na gestão pública a solidariedade e a paridade que acreditam ser importantes em quaisquer iniciativas que busquem transformar a sociedade.

Tecnologias sociais que devem ser observadas por candidatas e candidatos ao legislativo e ao executivo municipais de 2024 no Brasil.

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