Jornalista, foi repórter da Sucursal de Brasília. É mestre em ciência política pela Universidade Columbia (EUA).
Lula desperdiça decibéis em busca de influência em nova etapa da guerra
Retórica da indignação impulsiona condenação da violência, mas mantém Brasil em papel vago
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Em um mês, a reação de Lula à guerra no Oriente Médio passou por quatro movimentos distintos. Nos primeiros dias, as manifestações condenaram os atentados do Hamas, seguindo a cautela histórica do Itamaraty. Depois, o presidente investiu em missões de repatriação e se desviou de ciladas ideológicas iniciais. Na sequência, usou o palco da ONU para emitir as primeiras censuras aos ataques de Israel.
Agora, Lula soltou algumas amarras. Disse que o conflito havia se tornado "um genocídio", responsabilizou as forças militares israelenses pela morte de crianças e afirmou que a conduta de Israel "é uma atitude igual ao terrorismo" do Hamas.
O Brasil não é o único país a condenar, com razão, os efeitos da incursão israelense em Gaza, o alto número de vítimas civis e o impacto em alvos como hospitais. A diplomacia brasileira acertou ao conduzir sua atuação a partir do imperativo humanitário, mas Lula desperdiça decibéis em seu discurso público.
A retórica da indignação é uma alternativa válida em debates políticos. Tudo indica que, após a retirada de brasileiros da zona de guerra e o fim da presidência brasileira no Conselho de Segurança da ONU, Lula optou por esse caminho para reverberar as críticas à violência do lado israelense e participar da fase atual de pressões por um cessar-fogo.
As palavras escolhidas pelo petista, no entanto, também limitam essa influência. Há elementos suficientes para investigar Israel por crimes de guerra, mas enquadrar a incursão como terrorismo (cujo objetivo é uma intimidação indiscriminada) é juridicamente controverso. O presidente também poderia recriminar uma operação militar sangrenta sem compará-la aos métodos empregados por extremistas.
Lula ainda procura uma posição para a nova etapa de articulações diplomáticas na guerra. Na terça (14), o presidente disse ter feito um apelo à China para que a ONU faça "alguma coisa especial". A proposta parece tão vaga quanto o papel que o Brasil pode desempenhar nessa arena.
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