Siga a folha

Jornalista, foi repórter da Sucursal de Brasília. É mestre em ciência política pela Universidade Columbia (EUA).

Simpatia rançosa de Lula por Maduro é um peso para o Brasil

Declarações do petista estreita o campo de ação do governo como articulador regional

Assinantes podem enviar 7 artigos por dia com acesso livre

ASSINE ou FAÇA LOGIN

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

Brasília

As primeiras declarações de Lula sobre a eleição na Venezuela não foram só um reflexo da simpatia rançosa por um regime que já provou seu desprezo pela democracia. Ao indicar que o país passa por uma disputa corriqueira, o petista deu um péssimo sinal sobre a maneira como pode lidar com os próximos capítulos dessa crise.

A decisão brasileira de exigir a apresentação dos boletins de urna antes de reconhecer o resultado da votação não foi pouca coisa. Em boa medida, a posição foi um reconhecimento das desconfianças sobre um órgão eleitoral que se mostrou um braço do regime de Nicolás Maduro.

O problema é que Lula já se esborrachou ao ensaiar o segundo passo. Deu ares de normalidade aos questionamentos feitos pela oposição, ignorando as provas de que Maduro nunca teve interesse em organizar uma eleição livre. Para completar, afirmou que a questão cabe à Justiça local. "E aí vai ter uma decisão que a gente tem que acatar", disse.

Nem Lula deve acreditar que os órgãos capturados por Maduro sejam capazes de dar a palavra final sobre a eleição de forma imparcial. O que o presidente sugere é levar às últimas consequências a doutrina de que cada país é soberano para resolver questões internas. Está certo, mas, no caso específico, essa filosofia estreita o campo de ação do governo.

Se as atas eleitorais nunca aparecerem e Maduro insistir na vitória, restaria a Lula manter o juízo de que não foi possível verificar a autenticidade do resultado. Qualquer recuo seria uma submissão gratuita e humilhante às vontades do ditador.

Em outro cenário, hoje pouco provável, o regime apresentaria boletins que confirmam o argumento da oposição. O governo brasileiro teria papel crucial numa transição que preservasse Maduro e aliados.

O quadro mais complicado seria a divulgação de atas com números favoráveis a Maduro, mantidas as suspeitas de fraude na contagem dos votos. Pelo terreno preparado por Lula, o Brasil já decidiu que teria que acatar a palavra do regime.

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas