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Diretora do Centro de Políticas Educacionais, da FGV, e ex-diretora de educação do Banco Mundial.

A pandemia e a construção de uma cidadania empática

Já não se consegue assistir ao noticiário sem lágrimas nos olhos

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O agravamento da pandemia e a sensação de impotência tanto dos que lidam com as consequências econômicas deste triste quadro como dos que tentam se basear em evidências científicas têm trazido ao cenário virtual uma virulência que avança na mesma medida do aumento das mortes e das perdas de fonte de renda. E, neste contexto, perdemos todos, acusando o "outro" de insensibilidade.

Na véspera do dia em que escrevo a coluna, tivemos mais de 1.700 mortes. Já não se consegue assistir ao noticiário sem lágrimas nos olhos ou sem uma dose de sarcasmo para disfarçar a incredulidade frente a UTIs lotadas e hospitais, como o Moinhos de Vento, em Porto Alegre, alugando um contâiner para abrigar os cadáveres, dado o esgotamento do necrotério. Ao mesmo tempo, todos os avanços sociais obtidos nas décadas anteriores —no Brasil e no mundo— vão se desconstruindo.

Esta crise profunda em que estamos imersos demandaria lideranças extraordinárias, respeitadas por sua conduta, capazes de conceber boas políticas públicas, implementando-as com velocidade e capacidade de articulação frente aos diversos atores presentes numa federação. "O, mia pátria, sì bella e perduta", diz um verso de uma ária da ópera Nabucco, de Verdi, que fez com que se tornasse, a partir de 9 de março de 1842, o hino da unificação italiana.

Mas a frase melódica fez-me pensar não nos desafios de uma Itália em busca de identidade nacional, nem nos hebreus escravizados por Nabucodonosor e cantando sua profunda tristeza às margens do Eufrates. Lembrei-me do Brasil, tão belo e perdido, com dores e embates aparentemente sem saída. Da janela do apartamento onde me isolo, não há rio a me lembrar do Jordão onde possa chorar.

E, no entanto, penso nas novas gerações, que podem se preparar melhor para situações como a que vivemos agora e lidar com o que está por trás das pandemias —que prometem ser recorrentes nos próximos anos— como os males que infligimos ao planeta, como mostra Bill Gates em "Como evitar um desastre climático".

Mas, tanto quanto enfrentar doenças e evitar flagelos ambientais, precisamos aprender a viver juntos nas crises. Para isso não basta formar cidadãos ativistas com melhores propostas. Precisamos mais do que nunca de empatia —aprender a se colocar no lugar do outro, que também sofre, mesmo quando dele divergimos.

Construir uma cidadania empática parece ser uma das ações mais urgentes para quem trabalha com educação ou simplesmente cria seus filhos. Afinal, formar para a autonomia significa ensinar a dialogar sem ódio e compreendendo as razões que informam as ideias do outro.

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