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Diretora do Centro de Políticas Educacionais, da FGV, e ex-diretora de educação do Banco Mundial.

Aprender a ler e escrever em tempos de pandemia

De 2019 a 2021, subiu 66,3% o número de alunos de 6 e 7 anos que não sabiam ler e escrever

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Um texto relevante, embora com tristes notícias, foi divulgado nesta semana pelo movimento Todos pela Educação. Nele, com base em dados da PNAD Contínua obtidos junto aos pais de crianças de 6 e 7 anos, constata-se que entre 2019 e 2021 houve um aumento de 66,3% no número de alunos desta faixa etária que não sabiam ler e escrever.

A primeira reação de muitos foi pensar: natural, tivemos uma pandemia e as escolas, em especial as públicas, onde estudam 81,4% dos alunos de educação básica, ficaram fechadas por quase dois anos letivos. Seria compreensível, portanto, que as crianças não avançassem na alfabetização. Mas antes de naturalizar uma notícia tão desastrosa, vale a pena nos determos um pouco no que ocorreu.

Em primeiro lugar, já não estávamos bem em alfabetização no Brasil antes da pandemia. A última avaliação censitária que tivemos, em 2016, registrava que quase 55% dos alunos de 3º ano do ensino fundamental não se alfabetizaram. Era urgente fazer algo, e algumas iniciativas foram adotadas, inclusive colocando na Base Nacional Comum Curricular que as crianças precisam concluir sua alfabetização inicial até o final do 2º ano. Mais recentemente, o MEC criou uma Política Nacional de Alfabetização, que inclui referências científicas e uma plataforma com cursos para professores e materiais para os pais.

Mas não houve nova avaliação censitária de aprendizagens e o prolongado fechamento de escolas só pode ter piorado essa inaceitável realidade. Sim, houve um esforço grande para assegurar alguma aprendizagem em casa, no entanto, ensinar crianças pequenas a ler e escrever, com os pais ausentes e com a complexidade do processo, não foi exatamente fácil.

Além disso, a queda de matrículas na educação infantil, decorrente da crise econômica que acompanhou a pandemia, vai fazer com que os alunos do 1º e 2º anos de 2022 tenham mais dificuldades de se alfabetizar que seus colegas do período anterior à Covid.

E aqui também, se nada for feito, as desigualdades educacionais, como aponta o relatório do Todos, irão se aprofundar muito, daí o sentido de urgência na solução do problema. Precisamos parar com o discurso de que não se pode falar em perdas de aprendizagem para não estigmatizar os alunos e agir com determinação.

Muito pode ser feito. Alguns municípios criaram, em janeiro, colônias de férias para alunos que não se alfabetizaram. Criar estratégias, ao longo do ano, para acelerar a alfabetização de forma lúdica e até gamificada pode ser também uma alternativa interessante.

Só não podemos fingir que não houve perdas. Negacionismo nunca constrói boas soluções.

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