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Cristiane Gercina é mãe de Luiza e Laura. Apaixonada pelas filhas e por literatura, é jornalista de economia na Folha

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Licença-paternidade estendida melhora condição da mulher no mercado, mas não garante pai presente

Debate acerca da parentalidade avança, ainda sem divisão igual de tarefas entre mulheres e homens

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São Paulo

Alicença-paternidade estendida pode melhorar de alguma forma a condição da mulher no mercado de trabalho, conforme indicam estudos. Se a licença for parental —quando mães e pais têm direito ao mesmo prazo de afastamento—, é ainda melhor, porque ela nos coloca em pé de igualdade com homens na hora da contratação.

Os argumentos em defesa o prazo maior de licença para pais biológicos ou adotivos em virtude do nascimento de um filho não passam apenas por vantagens trabalhistas, eles envolvem ainda questões familiares e de convívio. Ter um pai presente por prazo maior do que cinco dias, como diz a CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), ou 20 dias, como garante a Lei da Empresa Cidadã, seria benéfico.

Mas será que conseguiremos fazer com que homens se tornem bons pais apenas elevando a possibilidade de tempo que eles podem passar com um filho? Será que conseguiremos chegar na justa divisão de tarefas entre homens e mulheres na criação de uma criança apenas dando aos pais mais dias fora de afastamento?

Elevar licença-paternidade vai garantir pais mais presentes? - Fotolia

Estudos em países europeus que adotam licença parental nos dois primeiros anos de vida da criança, com a possibilidade de a mãe passar um ano com o filho e o pai mais um ano, apontam que não. Segundo as pesquisas, apesar dos avanços, os benefícios não são tão expressivos. Homens usam o tempo extra para estudar, praticar esporte e sair com os amigos. A dupla jornada segue com a mulher. E o filho fica de lado.

Ao menos neste países se garante o direito ao aleitamento materno exclusivo ao seio por, no mínimo, seis meses, e também se confere certa igualdade no mercado de trabalho. Tanto homens quantos mulheres são profissionais que, se forem pais, ficarão fora da empresa por longo período.

No Brasil, temos tido avanço em direitos e benefícios. Cresce o número de empresas com licença ampliada para pais como uma forma de atrair profissionais, garantindo a parentalidade e a participação paterna na vida de um filho por um período bem maior que cinco dias.

Mas a estrutura patriarcal e machista pouco nos faz avançar. São muitos os casos de empresas nas quais os profissionais podem ter os 20 dias mínimos de licença-paternidade por conta da Lei da Empresa Cidadã, mas cujos homens abrem mão do período maior com medo de perder o emprego.

E o que há de ainda mais comum é a quantidade de pais que, nem nos cinco dias de sua licença, nem nos demais dias, apoiam a mãe de seus filhos, dedicam-se com afinco ao seu rebento ao ponto de fazer com que a mulher se sinta menos cansada.

Na estrutura na qual vivemos, pais seguem sendo os seres brincalhões que dão conta das diversões aos finais de semana, e que não sabem nada sobre a extensa rotina de criar um ser humano, desde a alimentação, sono, higiene, lazer e educação, passando por saúde, religiosidade, espiritualidade e tantas outros itens que compõe a nossa existência.

O que mais vejo são homens que dormem enquanto a mãe de seus filhos passa a noite em claro, que veem tevê enquanto a mulher trabalha e cuida da casa, que não sabem o que é fazer um lição de casa com o filho, que nunca marcaram uma consulta no pediatra, nunca se preocuparam com o cardápio alimentar, remédios, vacinas ou com as relações dessas crianças.

Isso quando não abandonam os filhos ou nem se quer lhe dão o direito de ter o seu nome na certidão de nascimento.

Sabemos que há exceções e que podemos —e devemos— avançar em direitos, mas ainda estamos muito longe em garantir que um pai seja pai de verdade. Há muito o que se fazer.

Para os pais que já entenderam seu papel e o cumprem: meu carinho. Para os que ainda não despertaram, meu lamento. Vocês passarão, mas seus filhos voarão. Talvez para bem longe.

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