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Paraense, jornalista e escritora. É autora de "Tragédia em Mariana - A História do Maior Desastre Ambiental do Brasil". Formada em jornalismo pela Universidade Federal Fluminense.

Três meninos do Brasil

Um país que não protege suas crianças, como as de Belford Roxo, morre com elas

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Eles se chamavam Lucas, Alexandre e Fernando Henrique, tinham entre 8 e 11 anos de idade, moravam em Belford Roxo, Baixada Fluminense. No fim de 2020, saíram de casa para jogar bola. Nunca mais voltaram. Quase um ano depois, a polícia informa que eles foram torturados e assassinados por terem furtado dois passarinhos do tio de um traficante.

Lucas, Alexandre e Fernando, que desapareceram em Belford Roxo (RJ) no final de dezembro de2020 - Reprodução

A história dos três meninos é de um grau tão desmedido de barbárie que é até difícil pensar e escrever sobre ela. Porque dói pensar sobre o Brasil em que Lucas, Alexandre e Fernando Henrique viviam. A brutalidade interrompeu a vida deles num cruzamento entre miséria, desigualdade, violência, crime, abandono, indiferença e tudo o mais que compõe o cenário onde parte da sociedade brasileira, majoritariamente pobre e negra, é largada aos deus-dará. "E se Deus não dá?", pergunta a canção de Chico Buarque.

Fica tudo como está, aliás, piora muito. Lá pelos idos dos anos 1970, ainda distrito de Nova Iguaçu, Belford Roxo era tido como o lugar mais violento do mundo. Em 1990, foi emancipado e uma campanha tentou associar o lugar ao epíteto impossível de "cidade do amor". Como sabemos, o marketing não muda a realidade. Entrou governo, saiu governo (municipal, estadual e federal), Belford Roxo continuou sendo um inferno para viver e criar filhos.

Segundo dados da plataforma Fogo Cruzado (julho/2021), Belford Roxo é o município da Baixada com o maior número de tiroteios e por motivos variados: operações policiais, homicídios, roubos e disputa por controle de territórios entre traficantes e milicianos. Não bastasse a ausência do Estado, as balas perdidas, as chacinas sem culpados identificados, agora temos o tribunal do tráfico que condena crianças à morte, supostamente, por causa de dois passarinhos.

Importante assinalar que as mães dos meninos contestam a versão do furto. Um país que não protege suas crianças morre com elas. Lucas, Alexandre, Fernando Henrique, Rebeca, Emily, João Pedro, Ágatha, Marcos Vinicius… Quantos mais? Até quando?

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