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Editor da Homepage, está na Folha desde 2011. Foi editor de Mundo e bolsista do programa Knight Wallace, da Universidade de Michigan.

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Nenhuma área do jornalismo sofreu tanto impacto das redes quanto a cobertura de futebol

Pilares da profissão são deixados de lado, e agora repórteres fazem propaganda e declaram para que time torcem

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Nenhuma área do jornalismo foi tão impactada pelas redes sociais quanto a cobertura de futebol. Sob um modelo que vê com naturalidade repórteres fazendo propaganda e declarando para que time torcem, pilares da prática jornalística foram deixados de lado por profissionais que agem como influencers.

Nem mesmo a cobertura política sofreu tanta influência, ainda que existam muitas similaridades, como o tom hiperbólico de declarações feitas para terminar em vídeos e posts virais que serão espalhados pelos algoritmos. Quanto mais descabido o comentário, maior a repercussão, como de costume.

Os atacantes Rony, do Palmeiras, e Wellington Rato, do São Paulo, disputam a bola durante a final da Supercopa do Brasil, no Mineirão, em Belo Horizonte - Douglas Magno - 4.fev.24/AFP

Assim, ficou comum ver jornalistas que antes só relatavam o que ocorria emitindo opiniões. Muitos deles seguem trazendo informações relevantes, mas a fronteira entre reportagem e comentário acabou. André Hernan é um exemplo dessa mudança. Ex-Globo, ele deixou a emissora após mais de uma década para migrar para a NWB, gigante das mídias sociais e gerente da carreira de vários youtubers conhecidos.

Na nova casa, passou a promover marcas, e em seu canal anuncia cupons de promoções que por vezes levam o seu nome. Isso, claro, não é exclusividade de Hernan nem foi inventado por ele —Milton Neves recorre à mesma prática há décadas, ainda que ele esteja mais para apresentador do que para jornalista. De qualquer maneira, as redes sociais intensificaram esse comportamento de forma nunca antes vista.

A dupla Arnaldo Ribeiro e Eduardo Tironi faz anúncios de toda sorte, de produto para calvície a seguro de saúde. No final de 2023, os jornalistas passaram por uma situação curiosa. À época, eles eram patrocinados pela Sportsbet.io, então patrocinadora do São Paulo, ao qual o canal deles é dedicado.

Quando o clube começou a negociar a troca de patrocinador —por uma outra bet—, Arnaldo e Tironi viveram um conflito de interesses, independentemente do que dissessem ou deixassem de falar.

Antes, na ESPN, canal em que trabalhavam, comentavam as notícias de diversos times, o que ainda fazem, mas agora a maior parte do conteúdo que produzem é sobre o clube do qual são torcedores declarados. Muitos enxergam na admissão uma forma de transparência, o que sempre foi considerado no jornalismo profissional um sacrilégio, já que assumir o time do coração é tido como sinônimo de falta de isenção.

De novo, há casos anteriores à popularização das redes, como prova o corintiano Juca Kfouri, colunista desta Folha, mas assim como no caso das propagandas essa postura se disseminou e hoje parece regra.

Pode ser transparência, sim, mas é também uma forma de se identificar com o público-alvo, cada vez mais separado em nichos e que quer se sentir representado por um jornalista que pensa como o torcedor.

Diante de uma indústria de mídia que acumula dificuldades para se manter de pé, esse tipo de cobertura longe das guias profissionais se dissemina, impulsionado pela onda de podcasts em que ex-jogadores têm pista livre para falar o que quiserem sem serem confrontados e por canais de influencers nos quais jogadores são convidados a fazer desafios, como quem acerta mais chutes na trave.

O jornalismo esportivo sempre teve sua parcela de entretenimento e, não por acaso, a Globo tirou em 2017 sua divisão de esportes do guarda-chuva do jornalismo. Sob o impacto das redes, a prática jornalística é cada vez mais entretenimento. E o leitor/espectador/usuário que se vire para entender a diferença.

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