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Daniel Alves sustenta que jovem o seguiu ao banheiro e fez sexo consensual

Depoimento do jogador é o último ato de seu julgamento em Barcelona, que levou três dias

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Madri

O jogador Daniel Alves sustentou, em seu depoimento nesta quarta-feira (7), que fez sexo consensual com a jovem que o acusa de estupro. Segundo ele, a mulher o seguiu deliberadamente ao banheiro da boate Sutton, em Barcelona, após sugestão dele, na noite de 30 de dezembro de 2022.

Alves está preso desde o dia 20 de janeiro de 2023 e, desde a última segunda (5), encara seu julgamento na Audiência de Barcelona, um palácio da Justiça no centro da capital catalã. Esta quarta foi o terceiro e último dia de seu julgamento, mas a sentença deve demorar alguns dias a sair.

Seu testemunho, em espanhol, foi realizado principalmente respondendo perguntas de sua advogada, Inés Guardiola. Antes dele, falaram peritos forenses médicos e psicólogos. Depois, houve as deliberações finais da promotora, da advogada de acusação e da advogada de defesa.

Daniel Alves no primeiro dia de seu julgamento - Alberto Estévez/AFP

Alves começou descrevendo o dia 30 de dezembro de 2022. "Estive com [três] amigos para comer. Chegamos ao restaurante às 14h30 e ficamos até a 1h da manhã. Bebemos cinco garrafas de vinho, uma de uísque, algumas outras. Bebi duas garrafas de vinho e alguns copos de uísque", iniciou.

"Quando saímos de lá, fomos para o [bar] Nuba, passamos um tempo tomando uma rodada de gin tônica. Quando saímos de lá, pegamos o carro no estacionamento. Bruno [Brasil] estava dirigindo porque eu tinha bebido muito e não conseguia dirigir."

"Depois do Nuba, fomos para a Sutton com Bruno. Chegamos por volta das 2h30 da manhã", prosseguiu Alves. "Sou um cliente frequente da Sutton e sempre tenho essa mesa 6 disponível para não ter que atravessar o clube para ir."

"Chegamos ao local, começamos a beber e dançar um pouco com o Bruno. Primeiro, duas garotas vieram e ficaram dançando por um tempo. Depois, convidaram as três meninas, a denunciante e suas amigas", acrescentou.

"Não estavam incomodadas. Chegaram, começaram a nos cumprimentar. Começou uma conversa. Sou uma pessoa que se aproxima facilmente, mas com respeito. Acho que elas sabiam quem eu era", disse o jogador.

"Estávamos dançando, interagindo. Já estávamos mais próximos, ela começou a dançar mais perto de mim, esfregando suas partes nas minhas. Ela colocou a mão para trás e começou a tocar minhas partes."

"Eu não tive que insistir para que ela fosse ao banheiro. Ela disse sim. Eu falei que ia primeiro e esperei um pouco, pensando que ela não iria, que ela não queria. Mas, quando abri a porta, praticamente esbarrei nela."

"Ela se ajoelhou na minha frente e começou a me fazer sexo oral. Baixei as calças e me sentei no vaso sanitário. A felação foi praticamente toda a relação sexual. Depois, ela sentou na frente das minhas pernas. Quando fui ejacular, ejaculei fora do sexo dela."

"Em nenhum momento ela me disse que não queria nada. Eu não dei um tapa nela nem a joguei no chão. Não sou um homem violento. Ela não me disse que não queria fazer sexo."

"Quando saímos do clube, eu tinha bebido demais. Minha esposa estava dormindo na cama. Foi isso o que eu declarei no segundo depoimento. No primeiro, eu disse que só teve sexo oral porque pensei que minha esposa poderia me perdoar."

Nesse momento, Alves começou a chorar. "Recebi a notícia de que estavam me acusando de estupro pela imprensa. Meu mundo desabou," finalizou.

Depois de Alves, foi a vez de a promotoria do Ministério Público expor suas conclusões sobre o caso. A instituição pede que Alves receba uma pena de nove anos. A acusação solicita a pena máxima, de 12 anos, e a defesa, a absolvição.

Para a promotora Elizabeth Jiménez , o testemunho da jovem, realizado no primeiro dia do julgamento, foi totalmente "crível". Ela lembrou que a vítima foi mesmo ao banheiro voluntariamente, mas não sabia que ali ficava um banheiro. "Ela desabou várias vezes, tem sido uma mulher muito corajosa", disse.

"Alves a pegou no colo e colocou a boca dela perto do pênis dele. Ela contou que ela a penetrou por trás e ejaculou por dentro e por fora. Ele deu um tapa na cara quando ela estava no chão. Ele disse ' Diga que você é minha putinha’."

Por fim, a promotora criticou a atual versão de Alves, de que havia bebido muito naquele dia. "Agora ele acrescenta que estava bêbado. Que ele estava muito bêbado naquela noite. Não há uma única evidência que confirme o que foi bebido. É completamente impossível dizer quanto ele bebeu", finalizou.

Na Espanha, o álcool pode ser considerado um atenuante. Daí a estratégia da defesa, no segundo dia do julgamento, de reforçar esse aspecto.

Em seguida, falou a advogada de acusação, Ester García, que tentou derrubar a possibilidade de redução de pena pelo uso de substâncias. "Esta parte pede a pena máxima", disse.

"O réu pode ter sido quem mais bebeu. Mas ninguém teve nenhum comportamento anormal. A própria perita afirmou que ele tem um prejuízo [no nível cognitivo]. Ele tinha a capacidade de distinguir entre o que estava bem e o que seria mal. O fator atenuante [pelo uso de álcool] não é aplicável aqui", argumentou.

A advogada de defesa, Inés Guardiola, falou por último, salientando que "as declarações do réu foram corroboradas", em oposição a um testemunho da suposta vítima, chamado de "incoerente, parcial, evasivo e não correspondente à realidade".

"O relato da vítima não atende aos requisitos da jurisprudência, não tem corroboração nas provas, é contrário às provas médicas e de vídeos", atacou.

"A prima admitiu ter dito: ‘Cara, é o Dani Alves’", acrescentou. "Se ela não sabia que era ele, por que quis tirar duas fotos? Ela não parecia nem um pouco desconfortável quando se sentou com o senhor Alves."

Citando cenas do circuito interno da boate, a advogada questionou a referida falta de atração entre os dois. "Eles dançam cada vez mais próximos. É ela que volta para procurá-lo em duas ocasiões, fazendo com que ele retome o flerte físico. É clara a sexualização do comportamento entre a denunciante e o acusado. Ela esfrega as nádegas nas partes íntimas do senhor Alves", descreveu.

"A violência descrita pela denunciante na penetração é incompatível com a prova médica e pericial. Nenhum ferimento foi encontrado em sua genitália interna ou externa. Isso confirma que a relação sexual foi consensual", afirmou Guardiola.

Os peritos, no entanto, haviam falado mais cedo que a falta de ferimentos não significa que não houve violência.

"É a denunciante que se vira na pista, que se coloca de costas para o senhor Alves, e isso é consentimento. A câmera mostra que a colocação da mão da denunciante no pênis dele é voluntária. Uma absolvição deve ser emitida", finalizou.

Após sua fala, a juíza Isabel Delgado Péres, presidente do tribunal, chamou Alves e lhe ofereceu uma última palavra, o que ele preferiu não fazer. Então, encerrou o julgamento.

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