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Jornalista, autor de cinco volumes sobre a história do regime militar, entre eles "A Ditadura Encurralada".

Descrição de chapéu diplomacia brasileira

China foi de anátema à condição de maior parceiro comercial do Brasil

Relação é difícil desde o Império

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Nesta quinta-feira completam-se 50 anos do restabelecimento de relações diplomáticas com a China. Em meio século, ela foi de anátema à condição de maior parceiro comercial do Brasil. Se as negociações avançarem, o presidente Xi Jinping descerá em Brasília ainda este ano. (Ele já esteve em Pindorama, em 1996, aos 43 anos, no Ceará.)

Lula restabeleceu as relações cordiais com a China, açoitadas durante o governo de Jair Bolsonaro. Ele acusava a China de ter criado o vírus da Covid e dizia que seu embaixador estava no Brasil para derrubá-lo. Chegou a pedir a sua remoção, sem sucesso.

Cerimônia em Pequim durante visita do então presidente Jair Bolsonaro, em 2019 - Reuters

Pelo mundo afora, entender o Império do Meio exige algum esforço. A primeira lei racista e xenófoba dos Estados Unidos mirou nos imigrantes chineses que haviam construído a ferrovia Transcontinental, no século 19. Por cá, a imigração chinesa foi condenada por escravocratas como o Visconde de Sinimbu e abolicionistas como André Rebouças.

Enquanto a China viveu o que hoje chama de "século de humilhações", o Brasil praticamente ignorou-a. Em 1944, a poderosa mulher do general Chiang Kai-shek, o rival de Mao Tse-tung, passou uns dias na ilha de Brocoió, no Rio. Cuidava da saúde, mas foi-se embora queixando-se da umidade.

De 1949, quando Mao entrou em Pequim, até 1974 o Brasil só reconhecia como China a ilha da Taiwan, para onde Chiang, batido, havia recuado. (Nos anos 60, o Partido Comunista do Brasil mandou 41 militantes para treinamento militar na China, 14 foram para a guerrilha do Araguaia e 12 morreram por lá).

Esse quadro começou a virar em fevereiro de 1974.

(O presidente americano Richard Nixon havia visitado Pequim dois anos antes. Deng Xiaoping havia saído do ostracismo, Mao Tse-tung já não enxergava direito e dizia que estava "convidado para tomar um drinque com o rei dos infernos".)

O presidente eleito Ernesto Geisel recebeu o embaixador Antonio Francisco Azeredo da Silveira e ouviu: "Não ter relações com a China é o maior irrealismo do mundo".

Geisel estava de acordo e perguntou por que o Itamaraty não se manifestava.

"Medo, medo dos militares", respondeu Silveira.

Dias depois, foi além: "O senhor reconhece a China de graça".

Ilusão democrática de Silveira, que viria a ser o novo ministro das Relações Exteriores. O general Golbery do Couto e Silva achava que "isso ainda está um pouco longe". Consultado, o chefe do Estado-Maior do Exército, general Sylvio Frota, foi contra. O Serviço Nacional de Informações grampeou uma delegação que veio a Brasília.

O empresário Giulite Coutinho, que era estimulado pelo professor Delfim Netto, levou pela segunda vez uma comitiva a Pequim. Só no dia do embarque souberam que um dos intérpretes havia sido preso no Brasil em 1964. Ele explicou: "São águas passadas. Vamos olhar para a frente".

Geisel reuniu-se com os ministros militares e disse: "Se vocês querem ser coerentes, então, vamos cortar relações com a Rússia também e vamos nos isolar, vamos virar mesmo uma colônia dos Estados Unidos".

Geisel e Silveira bateram o martelo.

Frota aceitou a decisão de Geisel, mas, anos depois, ao ser demitido, acusou o presidente de ser um cripto-socialista e, entre outros exemplos, citou o reconhecimento da China.

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