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Roteirista. Escreve para programas e séries da Rede Globo.

Epidemia só melhorou com o presidente deposto com uma chuva de tomates

Em 2100, aula no espaço relembra que Jair Bolsonaro gritava: 'se não tem vacina, que dê cloroquina!'

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Os alunos do sétimo ano conversam, quando a professora entra na sala de aula. “Silêncio, pessoal.”

No fundo da sala, Toninho levanta o braço. “Professora, meu cachorro comeu a minha lição de casa.” Ela responde, impaciente. “Não tem como isso ter acontecido, Toninho. Eu sei que seu cachorro é um robô.”

A professora projeta fotos de pessoas em um holograma. “Vamos continuar com a aula ‘Brasil, Século 21’.” Os alunos observam as imagens. “Em fevereiro de 2020, começou a epidemia no país.”

Nina levanta o braço. “Se tinha uma epidemia, por que as pessoas estavam fora de casa?”

A professora responde. “Porque achavam que a Covid não era grave.”

Os adolescentes comentam entre si, atônitos. “Como assim?” “E a pandemia?” Gabriel levanta o braço. “Mas e o governo? Não fez nada?”

A orientadora pensa um pouco antes de falar. “O próprio presidente dizia que a economia não poderia parar e que a doença não passava de uma ‘gripezinha’.” Mais sussurros pela sala.

“Mas, até aqui, ainda estava tudo bem. Piorou quando o governo mandou fabricar um remédio que não funcionava”, continua a professora. “E depois tentou empurrar esse remédio à população.”

Os alunos murmuram, ainda mais chocados. Ela segue. “Até aqui, ainda estava tudo bem. Então o presidente recebeu um diagnóstico de Covid. Mesmo assim, se aglomerou com dezenas de pessoas e disse a frase ‘máscara é coisa de ‘viado’.”

Gabriel tateia. “Professora, não vai dizer que até aqui tudo bem.” Ela responde. “Não. Mas ficou pior. Pressionados, os governadores reabriram a economia. E o número de mortes chegou a centenas de
milhares. Só melhorou quando o presidente foi deposto com uma chuva de tomates, gritando ‘se não tem vacina, que dê cloroquina!’.”

Silêncio na sala. “O nome dele era Jair Bolsonaro. Mas a única lembrança que temos dele está em um quadro pequeno, no Museu da Vergonha.”

Toninho comenta com o colega ao lado. “Poxa, ainda bem que acharam a vacina e salvaram o planeta.”

A educadora interrompe. “Na verdade, não salvamos, Toninho. Nessa época, ainda habitávamos o planeta Terra.”

Toninho fica pensativo. Sinal toca e os alunos se levantam. A professora grita. “Para a aula que vem, estudem o capítulo ‘Expedição a Marte. Chegando ao Novo Lar’.”

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