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Roteirista. Escreve para programas e séries da Rede Globo.

MTV foi a 1ª emissora para o jovem feita por jovens e está no DNA do audiovisual

Laboratório onde tudo era permitido, canal 32 se tornou um viveiro de profissionais do setor. Ainda bem

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Há 30 anos, a VJ Cuca Lazzarotto aparecia no canal 32 para chamar o clipe da Marina Lima "Garota de Ipanema".

Aquele dia ficou marcado no DNA de uma geração. Entrava no ar a MTV Brasil, a primeira emissora para o público jovem feita por jovens.

No começo, só quem tinha sinal UHF na TV conseguia assistir. O resto, dava um jeito. Coloquei Bombril na antena. Com a imagem "chuviscada", deixava o dia inteiro no canal. Os "VJs", adolescentes com pé num caixote falando "fiquem agora com 'Rédi rrooot Til Peprrrs', com 'givirilll uei'", eram o inferno dos meus pais.

Quando me chamaram para uma entrevista para estágio, fiquei nervosa. Disseram que perguntavam coisas como "qual é o nome do baterista do Mötley Crue?". Mas meu futuro chefe fez só três perguntas e me contratou. Depois confessou que estava de ressaca e chamou a primeira que apareceu.

Minha função era levar fitas com os videoclipes do "Disk MTV", ao vivo. Não acertava uma. A VJ Sabrina anunciava Planet Hemp, eu colocava Skank. Pediam Backstreet Boys, levava N'Sync. Chegou ao ponto de me pedirem um espelho —nome técnico da lista de eventos de um programa— e eu levar um espelho, objeto. Mas era uma emissora feita por jovens, então precisava de muito esforço para ser demitido. O único caso que testemunhei foi quando um estagiário estourou uma bomba em um evento. Justo.

De resto, tudo era permitido. Qualquer um podia criar um programa e colocar no ar, mesmo sem dinheiro. Precisava de um cachorro? Alguém levava de casa. Queríamos fazer um desenho animado? Nós mesmos dublávamos, como eu, que fazia a voz da personagem Funérea.

O baixo orçamento nos obrigava a criar soluções. Programas como "Piores Clipes", "15 Minutos", "Furo", "Hermes e Renato" e "Comédia MTV" marcaram porque humor funciona melhor com pouco.

Como era um laboratório, a emissora se tornou um viveiro de profissionais do audiovisual. Hoje vemos ex-MTVs na TV, cinema, plataformas de streaming, publicidade e jornais. Da Rede Globo à Netflix. Do "Mais Você" ao Facebook.

Quando saí de lá para trabalhar na TV aberta, meu novo diretor aconselhou: "esquece tudo o que você aprendeu na MTV". Era impossível. Aquilo já estava marcado a ferro no meu DNA. Para infelicidade daquele chefe, já estava no DNA do audiovisual. Ainda bem.

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