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Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".

Lições da tragédia

Ataques a colégios não devem determinar política de controle de armas do Brasil, mas nortear prevenção ao suicídio

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O massacre de Suzano é uma daquelas tragédias que geram perguntas que ninguém será capaz de responder. “Por quê?” é a que grita mais alto. Há, contudo, questões para as quais temos respostas.

Uma delas é que políticas públicas devem ser formuladas tendo em vista os eventos mais comuns e não as exceções. E chacinas como a da escola Professor Raul Brasil são, felizmente, raras no Brasil. Elas não passaram de meia dúzia nos últimos dez anos e não produziram mais do que 30 mortos. Cada vida precocemente interrompida é uma catástrofe, mas, em termos epidemiológicos, estamos falando de menos de três mortes por ano.

Não são, portanto, ataques a colégios que devem determinar a política de controle de armas do Brasil, nem no sentido de facilitar o porte para professores, como agora defende a bancada da bala, nem de erigir a carnificina no principal argumento pró-desarmamento. Terroristas na Europa mostraram que, quando há determinação e planejamento, até carros podem ser transformados em artefatos maciçamente letais.

O motivo relevante que temos para restringir a posse e o porte é o mar de evidências estatísticas mostrando que, quanto mais armas de fogo em circulação, mais suicídios, mortes acidentais e óbitos decorrentes de conflitos por motivos banais. São dezenas de milhares de vidas perdidas por ano.

Também parece precipitado culpar os videogames, como já fez Hamilton Mourão. Pesquisadores se dividem sobre se existe uma relação causal entre jogos e agressividade, mas é quase consensual que os games não afetam as taxas de criminalidade.

No final, a política pública que mais diz respeito à tragédia de Suzano é a de prevenção de suicídio. Os dois perpetradores, afinal, entraram nesse delírio dispostos a morrer. E tentaram transformar seu gesto de desespero num evento espetacular, que, pelo morticínio, buscaria imprimir significado a um grande vazio existencial.

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