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Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".

Medo do acaso

População vê com desconfiança uso de sorteios no âmbito de políticas públicas

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São Paulo

Comentei, no início da semana, proposta do psicólogo Adam Grant de aprimorar a democracia trocando certas eleições por sorteios. Sempre iluminador, o cientista político Cesar Zucco Júnior, da FGV, me escreveu para observar que um dos empecilhos à adoção de sorteios no âmbito de políticas públicas é que a população os vê com desconfiança.

O próprio Zucco escreveu, em parceria com Natalia Bueno e Felipe Nunes, um artigo mostrando como beneficiários do programa Minha Casa, Minha Vida tendem a rejeitar o sorteio como critério para definir quem será contemplado com o imóvel subsidiado. Mesmo os vencedores dessa loteria acham que existiriam métodos melhores. Ele me enviou um pré-print (o trabalho ainda está em fase de revisão), que partilho aqui com os leitores.

Sorteio do Minha Casa, Minha Vida em Ribeirão Preto (SP) - Edson Silva - 16.mai.11/Folhapress - Folhapress

Essa é mais uma daquelas instâncias em que é grande o divórcio entre especialistas e senso comum. Para acadêmicos, não há forma mais justa do que o sorteio para decidir entre dois ou mais candidatos que disputem em igualdade de condições um bem escasso; para o público geral, sempre seria possível melhorar, investigando mais as reais necessidades de cada postulante, por exemplo.

Minha hipótese para explicar a diferença é que o ser humano já vem de fábrica com verdadeiro horror ao acaso. Vários de nossos vieses cognitivos, além das religiões, podem ser descritos como rebeliões contra a incerteza. Não obstante, em análises mais objetivas, verifica-se que o acaso tem papel determinante nas mais diversas atividades humanas e na própria natureza. Flutuações quânticas aleatórias estariam na origem de várias facetas do Universo.

Por que, então, apresentaríamos vieses tão descolados da realidade? É que negar a importância da sorte tem valor adaptativo, à medida que faz com que nos esforcemos mais e nos preparemos melhor para contingências. Rejeitar a incerteza, embora piore nossas análises, melhora nossas chances de sobrevivência.

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