Siga a folha

Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".

Descrição de chapéu Itália

Promiscuidade intercultural

Humanidade se beneficia da apropriação de ideias e representações artísticas de uma cultura por outra

Assinantes podem enviar 7 artigos por dia com acesso livre

ASSINE ou FAÇA LOGIN

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

São Paulo

Italianos e alemães andam se estranhando nos tribunais. É que a Itália processa uma empresa alemã pelo uso do "Homem Vitruviano", um desenho de Leonardo da Vinci que a firma teutônica estampava em quebra-cabeças. Com base numa lei italiana de 2004, que permite que museus cobrem taxas pela utilização comercial de obras que abriguem, Roma exige pagamentos da empresa alemã. Como previsível, um tribunal italiano deu razão à Itália, e um alemão acaba de decidir em favor da companhia alemã.

Não gostaria que o pleito italiano prosperasse. Seria o fim do domínio público, algo que me parece útil para a humanidade: quanto maior a circulação de ideias e representações artísticas, melhor para todos; a inovação se beneficia de polinização cruzada.

Quebra-cabeça da empresa alemã Ravensburger com o 'Homem Vitruviano', de Da Vinci - Ravensburger Puzzle via The New York Times - NYT

Não me oponho a que autores e artistas extraiam renda de seu trabalho, mas tenho dificuldade para entender por que a proteção de direitos autorais precisa ser tão longa, se estendendo por até cem anos após a morte do autor. Estamos falando de até quatro gerações. De todo modo, Da Vinci morreu há 500 anos. Se suas obras não estão sob domínio público, pouca coisa estará.

Dinheiro é a palavra-chave aqui, mas creio que há também um elemento nacionalista-identitário. Os italianos estão dizendo "Da Vinci é nosso". Há semelhanças com a noção de apropriação cultural, que vem ganhando espaço em militâncias identitárias. Neste caso, porém, não se discute dinheiro, mas um veto moral à utilização de ideias, práticas e objetos de uma cultura por membros de outra. Pela nova cartilha, só mulheres de ascendência africana, por exemplo, teriam direito de usar as vestimentas características.

Não compro esse projeto. O que torna a humanidade interessante é justamente as trocas (nem sempre voluntárias) de ideias entre diferentes culturas, que depois sofrem modificações e aprimoramentos. Limitar essa promiscuidade intercultural é matar a criatividade.

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas