Siga a folha

Escritora, doutora em filosofia e literatura alemã pela University College Cork e mestre em filosofia pela Universidade de Tel Aviv.

Uma mulher fenomenal

O impacto positivo da mentoria na vida profissional de jovens mulheres

Assinantes podem enviar 7 artigos por dia com acesso livre

ASSINE ou FAÇA LOGIN

Maya Angelou, poeta e ativista, em 2004 - Gary Hershorn/Reuters

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

A vida é um emaranhado de coincidências. Muitas vezes encontramos um livro, assistimos a um filme ou escutamos uma música que acidentalmente acabam por refletir o momento que estamos enfrentando. 

Foi assim com a minha mãe e o filme “As Pontes de Madison”, ao qual que ela assistiu semanas antes de se separar do meu pai. Foi assim comigo quando recebi uma cópia do poema “O Torso Arcaico de Apolo" durante uma palestra em Jerusalém, o que me deu coragem para mudar de vida.

Nada explica coincidências, mas elas fazem parte do nosso cotidiano. Joan Didion, em “O Álbum Branco”, tenta emprestar sentido à série de eventos que ligariam a sua vida à de Roman Polanski, culminando em seu relacionamento profissional com uma das testemunhas chaves no brutal assassinato da atriz Sharon Tate, então recém-casada e grávida do cineasta.

Segundo Didion, toda narrativa envolve um processo de escolha e edição de fatos em que se cria uma aparência de ordem e inteligibilidade para os acontecimentos mais contundentes entre aqueles que integram a nossa experiência caleidoscópica do mundo. Ou seja, o que definiria o escritor —​e todos nós somos, em certa medida, escritores do nosso próprio fado— no confronto diário com a vida refletida por um espelho em enigma.

Assim, entre as coincidências que me aconteceram em junho deste ano, nenhuma outra foi tão marcante quanto descobrir Maya Angelou na mesma semana em que estive com a minha orientadora de mestrado pela primeira vez desde a minha mudança para a Irlanda, em março de 2016.

O reencontro com a minha antiga orientadora fez com que eu começasse a refletir seriamente sobre o impacto positivo de uma mentoria na vida profissional de jovens pesquisadoras acadêmicas. 

A descoberta de Maya Angelou confirmou a minha impressão de que os benefícios dessa mentoria se estenderiam para todas as outras esferas da vida de outras mulheres.

O mentor é a pessoa que nos ensina a decifrar o mundo e a superar obstáculos. Através de um relacionamento de mentoria, aprendemos a confiar em quem somos e a avaliar as decisões que precisamos tomar para alcançarmos os nossos objetivos. Ele não simplesmente transfere conteúdos, mas nos ensina como devemos nos relacionar com as informações que já possuímos: a sua principal função é despertar a nossa voz através do exemplo.

Um mentor não precisa ser do mesmo sexo do seu protegido, mas a mentoria entre mulheres cumpriria um papel bastante importante na vida de muitas jovens. Assim, quando compartilho experiências e dúvidas com a minha orientadora, sinto que através do exemplo dela eu também tenho condições de lutar para realizar o meu propósito.

Maya Angelou foi mentora de uma série de mulheres que batalharam para conquistar os seus espaços na vida pública, entre elas, a apresentadora Oprah Winfrey e a ex-primeira-dama Michelle Obama. Mulheres negras que, assim como ela, podem se dizer sobreviventes de uma série de dramas semelhantes.

Sobre si mesma Maya Angelou nos diz que o seu trabalho remete a um exercício de sobrevivência. Uma mulher fenomenal, em seus escritos, Angelou transforma o sofrimento em uma ode à resiliência. Ela nos ensina a importância de confiar na capacidade regenerativa da vida e, talvez, seja por isso que durante toda a sua vida ela tenha sido uma mentora por excelência.

A mensagem da sua obra e, principalmente de um seu poema Ainda Assim Me Levanto, aproxima-se bastante do que escreve o filósofo norte-americano Ralph Waldo Emerson em “Autoconfiança”: “Confia em ti mesmo. Todo coração vibra conforme essa corda de ferro.” 

Uma lição de suma importância que a mentoria deve cultivar entre as nossas jovens e meninas para que elas também se transformem em mulheres fenomenais.

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas