Siga a folha

Médico neurologista, escreve sobre o cérebro, seus comandos, seus dilemas e as doenças que o afetam.

Por que tempo parece passar mais depressa em momentos bons e assustadores?

Emoções afetam nosso julgamento temporal, e isso deve nos motivar a agir o mais rapidamente diante de ameaça

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

Nós, humanos, conseguimos calcular a passagem do tempo mentalmente com certa precisão. Conseguimos inferir qual foi a duração de uma visita a um parente e qual foi o tempo consumido até chegarmos a um determinado destino. Uma série de processos orgânicos habilita a existência de nosso relógio interno. 

Entretanto, essa precisão se perde frente a certos contextos, prazerosos ou enfadonhos. Quem nunca experimentou os minutos que se vão aborrecidamente lentos em situações tediosas? Já em uma boa festa, “o tempo voa mais do que a canção”. 

Parece um paradoxo termos um sistema biológico acurado em estimar o tempo, mas que, quando pressionado por emoções, desregula-se. Será que nossas emoções enevoam nossos discernimentos, inclusive nossa percepção de tempo? A emoção, ao corromper a razão, deturpa nossa ordem mental e impede que diferenciemos a cadência da sucessão dos minutos? Nossas emoções inviabilizam a precisão?

Seriamos simplistas demais se aceitássemos essa premissa. Primeiro, porque não existe razão completamente desvinculada de emoções. Segundo, as distorções de percepção de tempo moduladas pelas emoções não são um erro biológico, mas um processo adaptativo favorável para nossa sobrevivência.

Foi isso o que a psicóloga Sophie Fayolle demonstrou.  Em um experimento, a cientista distribuiu choques elétricos controlados aos participantes enquanto avaliava como eles percebiam o tempo passar. Depois de terminar seus testes, Fayolle analisou como emoções, ou melhor, medo e dor, distorceram a percepção de tempo. 

As pessoas, literalmente chocadas, superestimavam a duração do martírio elétrico e subestimavam o tempo decorrido ao longo dos testes. Portanto, os participantes tiveram seu relógio interno acelerado durante os choques, o que distorceu a concepção de tempo. Esse relógio destacou aquilo que emociona, ao valorizar excessivamente os instantes dos desconfortos elétricos.

Fayolle provou que emoções afetam nosso julgamento temporal, e isso deve nos motivar a agir o mais rapidamente quando estamos ameaçados.

Mas, afinal, o que faz a conjunção entre nossa percepção de tempo e nossas emoções? A resposta é a dopamina, neurotransmissor que nos faz julgar o tempo e também nos dá a sensação do prazer.

O núcleo accumbens é uma estrutura cerebral que trabalha como um centro da motivação. Ele nos faz desejar as prazerosas bonificações da vida, como as obtidas em refeições e no sexo. Esse núcleo. quando embebido em dopamina, provoca a impressão de que o tempo flui mais rapidamente. Mas, ao ser privado desse neurotransmissor, provocará em nós a impressão de que segundos se estenderam preguiçosamente.  O prazer é igualmente mediado pela liberação da dopamina. Portanto, esse neurotransmissor faz o tempo voar e temos prazer.

Uma questão interessante, que explica muito sobre nosso comportamento, é que o medo e o prazer hedônico dividem processos bioquímicos semelhantes. Dentro do núcleo accumbens há uma tênue linha que separa as duas emoções. Essa fronteira é permissiva, algo que explica como nós conseguimos ter prazer em sofrer medo, e como este sentimento nos atrai.

O desejo pelo medo nos expõe às altas velocidades, aos filmes de terror, aos saltos de paraquedas. O desejo pelo prazer que acelera o tempo. E provoca a nítida impressão de que a aventura durou pouco.

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas