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Roteirista e escritora, é criadora da série 'As Seguidoras' e trabalha com desenvolvimento de projetos audiovisuais

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Lembrar do Bolsonaro me alivia toda vez que cometo uma gafe no pós-Covid

Cumprimentar as pessoas e outros hábitos viraram um desafio depois de tanto tempo trancafiados

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O ano é 2021 e estamos, aos poucos, voltando ao convívio social. É normal ficar confuso a respeito de como se portar. Para início de conversa, não sabemos mais como cumprimentar as pessoas —o ato de roçar os cotovelos, a reverência japonesa com que o Miguel Falabella encerrava o Vídeo Show ou uma coreografia do TikTok?

É de bom tom perguntar qual vacina a outra pessoa tomou? Como disfarçar uma tosse alérgica para não acharem que você está transmitindo Covid? A máscara no pescoço se tornou item fashion? É possível ficar cara a cara com um bolsonarista sem perder a compostura?

Publicada em 4 de outubro de 2021 - Silvis

E, principalmente, como fingir naturalidade em um evento social após quase dois anos trancafiada em um apartamento onde suas únicas companhias eram sua planta carnívora, seus gatos e suas paranoias?

A primeira vez em que botei os pés para fora de casa, me senti como o Mogli, o menino lobo. Exposta ao ridículo com minhas roupas de sair, justo quando havia me adaptado ao estilo “home wear”, apegada ao conforto do meu casaco de moletom com manchas de molho de tomate. Um sutiã apertava minhas costelas, os brincos pesavam em minhas orelhas como bigornas. Nada daquilo fazia sentido, e meu receio era ser confundida com uma participante do reality show “RuPaul’s Drag Race”.

A pior parte de se equilibrar em sandálias plataforma é a dificuldade de correr para as colinas diante de certos desafios, como gente que fala pertinho. Se essa categoria já era considerada desagradável antes da pandemia, que dirá agora, quando, além de inconveniente, ainda põe sua vida em risco? É preciso muita flexibilidade para desviar de uma rajada de perdigotos feito o Neo escapando de projéteis em “Matrix”.

A experiência de estar largada e vacinada na selva dos solteiros também pode ser bastante desconcertante. Quer dizer que agora teremos que voltar a flertar ao vivo? Dizem que é como voltar a andar de bicicleta, mas eu nunca soube andar de bicicleta, e agora preciso aprender a andar de bicicleta de salto alto e máscara de proteção em um desfiladeiro da morte.

Se ao menos alguém se desse ao trabalho de escrever um guia de etiqueta para o momento que atravessamos, mas todo mundo tem problemas mais urgentes do que esse. É por isso que, toda vez que temo cometer uma gafe, lembro do Bolsonaro na ONU para me tranquilizar —e acabo me constrangendo ainda mais, por motivos óbvios.

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