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Lviv, Ucrânia: da matemática à guerra

Café na cidade concentrava matemáticos, que criaram interessante documento com problemas

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Na década de 1930, a cidade polonesa de Lwów, foi sede de uma brilhante escola de matemática, com luminares como Hugo Steinhaus, Stefan Banach, Stanislaw Mazur e Stanislaw Ulam, entre muitos outros.

O grupo se encontrava regularmente no Café Escocês, próximo da universidade, para longas discussões sobre análise funcional, topologia e teoria dos conjuntos. A partir de 1935, contaram com um caderno para anotar os problemas discutidos e suas soluções. O "Livro Escocês", como ficou conhecido, é um dos documentos mais curiosos da história da matemática. Dos 198 problemas matemáticos listados nele, vários tiveram papel de relevo no desenvolvimento da matemática, e continuam sendo fontes de inspiração até hoje.

Mazur gostava de oferecer prêmios pela resolução dos problemas que formulava. Pelo problema 30, uma cerveja pequena; já pelo 31, mais difícil, cinco cervejas pequenas. Vários seguiram o seu exemplo. Embora os prêmios nos pareçam simples, eram artigos de acesso difícil nos anos da Grande Depressão.

Fumaça em cidade próxima a Kiev, na Ucrânia - 4.mar.2022 - Aris Messinis/AFP

O livro ficava no Café Escocês, à disposição de todos. Mas no verão de 1939, certo de que a guerra mundial era iminente, Mazur insistiu que ele precisava ser escondido para que não se extraviasse. Combinou com Ulam que seria enterrado perto do gol de uma certa quadra de futebol, mas ao que parece ficou mesmo na posse de Banach.

À morte deste, em 1945, foi encontrado por seu filho, que o mostrou a Steinhaus. Esse último fez uma cópia integral à mão e, em 1956, enviou-a a Ulam, que trabalhava no laboratório de Los Alamos, nos Estados Unidos. Ulam traduziu o livro para o inglês e fez 300 cópias, que distribuiu entre amigos e universidades. A primeira edição profissional foi feita por Los Alamos em 1977.

A essa altura, a escola matemática de Lwów deixara de existir. A ocupação soviética (1939) e nazista (1941) forçara a maioria dos seus membros a fugir, especialmente os judeus, e a continuar sua contribuição para a ciência longe do país natal.

Em 1946, Lwów foi incorporada à república soviética da Ucrânia, passando a se chamar Lviv. Hoje, vive os horrores de outra guerra, tão injustificável quanto a anterior. Esperemos que seja menos destrutiva.

Sou grato ao colega e amigo Rogério Steffenon, professor da Unisinos, por me fazer aprender estas histórias, e por insistir que as compartilhe.

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