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Economista, ex-presidente do Insper e ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda (2003-2005, governo Lula)

É inaceitável a omissão de dados sobre a pandemia

Suprimir informação revela vícios do passado que deveriam pertencer só aos livros de história

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A recente decisão do Palácio do Planalto de intervir na divulgação diária dos dados sobre as vítimas do coronavírus passou dos limites.

Como a realidade desmoralizou os vaticínios do presidente sobre mais um tema em que ele revelou a sua ignorância, neste caso a gravidade da pandemia, ele concordou com a intervenção na divulgação do número de vítimas.

Neste sábado, o Ministério da Saúde divulgou apenas os dados de infecção e de mortes das últimas 24 horas, com critérios ainda por ser esclarecidos. Não foram divulgados os números totais das vítimas, como era a prática usual.

Mudanças de metodologia são usuais em temas da saúde e da economia. A boa prática, porém, recomenda preservar a série calculada com as regras anteriores em simultâneo aos dados obtidos com os novos protocolos. Desta forma, garante-se maior, e não menor, informação à população.

Mudanças abruptas da metodologia, interrupção das estatísticas com dados acumulados e interferências na divulgação de dados relevantes são típicas de governos autoritários, não da democracia. Se há problemas com os dados, eles devem ser debatidos abertamente. Suprimir informação revela vícios do passado que deveriam pertencer apenas aos livros de história.

Os ingênuos achavam que a presidência de Dilma Rousseff tinha sido o fundo poço. Nada como a gestão Bolsonaro para redimir o malfeito, incluindo a insegurança sobre os dados oficiais.

Em 2013 e 2014, foram adotados critérios contábeis que mascararam para a população a gravidade das contas públicas e a grave crise econômica que estava sendo construída. O mesmo já havia ocorrido pouco antes com o governo Kirchner na Argentina, que interveio nos índices de inflação.

Não deveria surpreender. Populistas desprezam a liberdade de imprensa e a ciência. Uns se dizem de “esquerda”, outros de “direita”, mas todos são absolutamente iguais ao tratar a crítica como ofensa e a bajulação como competência.

O atual governo tem trabalhado arduamente para macular a imagem do país para o resto do mundo. O Palácio do Planalto tentou negar as evidências que demonstravam a piora do desmatamento na Amazônia. Os fatos desqualificaram as promessas da equipe econômica antes mesmo da pandemia.

As declarações dos ministros oscilam entre o despreparo, o delírio e o oportunismo. Resta saber quem irá permanecer no governo, apesar dos descalabros. O que ocorrerá com os índices de desemprego, ou dos números do Enem, caso se revelem igualmente inaceitáveis?

Desta vez, a vítima é a saúde da população.

Não estamos, porém, em um regime autoritário. Pode-se perdoar a incompetência, mas é inaceitável a omissão de informações sobre pandemia no país. O Estado de Direito deve ser preservado. O Presidente, porém, deve saber que pode muito, mas não pode tudo.

Cabe à imprensa informar à sociedade o número de mortos e de contaminados, apesar dos obstáculos criados pelo Palácio do Planalto. Diariamente, antes das 20 horas, como usual. Relatando todos os casos confirmados. Agrade ao governo ou não.

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