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Economista, ex-presidente do Insper e ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda (2003-2005, governo Lula)

Acesso a educação para negros no Brasil sempre foi pior

Somente em 2000 o país chegou a uma razão negros/brancos alfabetizados que os EUA já possuíam em 1930

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A coluna de domingo ("Luther King e o fuso racial", 29/11) gerou críticas. Alguns questionaram os comentários acerca da segregação nos EUA. Outros reagiram à frase sobre a convivência racial em Atlanta. Como houve essas reações, melhor explicar.

O texto foi motivado por declarações recentes de que não haveria racismo no Brasil.

Ao contar um trecho da história americana, tentei fazer o contraponto. Apesar do descalabro da segregação, os EUA ofereceram acesso bem maior à educação para os negros do que o Brasil.

Somente em 2000, por exemplo, o Brasil chegou a uma razão negros/brancos alfabetizados que os EUA já possuíam em 1930. No fim dos anos 1990, pouco depois do fim do apartheid, negros da África do Sul tinham três anos a mais de escolaridade do que pretos e pardos no Brasil (David Lam, 2002).

A formação de uma elite negra, como afirmei, foi fundamental para o movimento civil norte-americano que pôs fim à segregação. Thurgood Marshall e Martin Luther King se tornaram exemplos para as novas gerações.

A coluna destacou uma cláusula da jurisprudência americana na virada do século 20, “separados, mas iguais”, que ratificou a segregação. Usei o termo “descalabro” para enfatizar a sua natureza abjeta. O movimento negro, no entanto, utilizou, com inteligência e persistência, essa cláusula para combater as barreiras legais.

Nos anos 1930, T. Marshall argumentou que a formação destinada às “pessoas de cor” no estado de Maryland não oferecia educação com a mesma qualidade do ensino reservado aos brancos, desrespeitando o princípio de igualdade. O Judiciário concordou e garantiu o acesso de negros à Universidade de Maryland.

Em 1954, ele liderou o caso “Brown versus Comitê de Educação” e convenceu a Suprema Corte que a segregação, na prática, era inerentemente desigual e deveria ser abolida em todas as escolas dos EUA.
Desde 1946, Atlanta era percebida como uma cidade com convivência racial relativamente pacífica em comparação ao restante do Sul americano (David Harmon, 1996).

Relativamente pacífica não significa pacífica. Como escrevi, seguindo Harmon, a segregação permeava a cidade e o movimento civil foi fundamental para combatê-la.

A coluna destacou a resistência da elite em homenagear King para apontar a persistência do racismo nos EUA, mesmo depois de tantas barreiras legais abolidas. Havia ameaças de supremacistas brancos e, por essa razão, a polícia tomou cuidados redobrados, atrasando-o para o jantar. O risco era real. Três anos depois, ele foi assassinado.

A fina frase irônica de King, que conclui a coluna, pareceu-me adequada para ressaltar a nossa inacreditável demora em enfrentar o racismo.

Membras da Abayomi Juristas Negras em evento sobre direito antidiscriminatório, na OAB-PE, em novembro de 2019 - Arquivo pessoal

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