Economista, ex-presidente do Insper e ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda (2003-2005, governo Lula)
Velhos vícios
Política para produzir vacina pode reproduzir os nossos fracassos
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Pelo visto, aprendemos pouco com os repetidos fracassos dos nossos Planos de Desenvolvimento. Se não houver uma mudança de rumo, a política do governo federal para produzir a vacina contra o coronavírus pode se tornar a nova versão da Lei de Informática. Só que, desta vez, com um custo social mais dramático.
Há quatro décadas, a informática surpreendia o mundo, e a IBM, com seus imensos computadores, era reverenciada como a empresa do futuro.
O Estado brasileiro resolveu liderar o desenvolvimento da nova tecnologia. A Lei de Informática protegeu os produtores locais de equipamentos para garantir a autossuficiência do país.
Deu tudo errado. O progresso impressionante veio da revolução dos sistemas de programação e de tecnologias inesperadas. A construção de computadores, por sua vez, tornou-se uma atividade corriqueira.
O fracasso custou-nos caro. Estimulamos a criação de empresas ineficientes, que faliram nos anos seguintes. Para piorar, não acompanhamos as inovações que surgiam nos demais países, ficando reféns de tecnologias obsoletas que prejudicaram a produtividade no restante da economia.
A gigante IBM também fez apostas equivocadas na década de 1980. Ela delegou a uma empresa criada poucos anos antes o desenvolvimento do sistema operacional destinado aos seus computadores portáteis.
A então nanica Microsoft tornou-se uma das maiores empresas em um mundo muito mais produtivo com computadores pequenos e sistemas interconectados. A estratégia da IBM prejudicou seus acionistas, mas isso faz parte do jogo.
A economia de mercado estimula o empreendedorismo. A maioria dos produtores independentes fracassa. Os casos de sucesso, contudo, garantem ganhos privados, às vezes estonteantes.
A incerteza é inerente à inovação e à estratégia dos negócios. O processo descentralizado de experimentação permite à sociedade escolher a solução mais eficiente entre as muitas que são tentadas.
Por essa razão, governos deveriam ser cuidadosos ao empreender. Não se sabe de antemão o que dará certo, sendo melhor apostar em vários cavalos.
Alguns, porém, parecem acreditar que basta a intenção para viabilizar a política pública, esquecendo-se dos detalhes de implementação e da incerteza associada à inovação.
O governo federal sucumbiu ao velho coro que congrega militares de direita e burocratas de esquerda, optando em meados do ano por um único acordo, com produção local.
Foi um erro não fazer parcerias para o desenvolvimento das vacinas com os principais laboratórios e adquiri-las preventivamente. Corremos o risco de assistir a obituários nas manchetes enquanto o resto do mundo se vacina à larga.
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