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É jornalista e vive em Londres. Cobriu seis Olimpíadas, Copa e Champions. Mestre e professora de jornalismo esportivo na St Mary’s University

Cristiano Ronaldo faz até o sol brilhar em Manchester

Jogador é o assunto na cidade inglesa às vésperas da reestreia pelo United

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“Manchester só tem o United e a música”, me disse um amigo torcedor do clube sobre a cidade do norte da Inglaterra. Ter dois times protagonistas do futebol inglês e uma herança musical incrível não é pouco, pelo contrário, mas entendo o ponto de vista. Manchester não é das mais acolhedoras para quem visita. Já fui várias vezes e em todas choveu, ou fez frio, ou os dois. O marrom escuro dos prédios remete ao passado industrial.

Mas essa cidade “dura” tem personalidade e através do rock e do esporte se tornou querida mundialmente. No fim de 1970 e na década de 1980, com Margaret Thatcher como primeira-ministra, fábricas fecharam, muita gente se mudou. Bandas como The Smiths surgiram, cantando sobre solidão e melancolia. Versos de Morrissey sobre ser atropelado por um ônibus double-decker ao lado da pessoa amada viraram trilha sonora de uma geração. “Nossas bandas mais brilhantes são depressivas”, disse um guia local. O futebol era motivo de orgulho e refúgio. Ao longo dos anos, City e United acumularam títulos e admiradores nos quatro cantos do planeta.

Hoje há mais otimismo, mas é para uma Manchester não tão diferente assim que Cristiano Ronaldo retorna, com direito a declaração de amor. Nas redes sociais, escreveu que é uma “volta para onde pertenço.” Quem mora lá quer retribuir. Fui a Manchester e não encontrei ninguém contra a chegada dele.

Fachada do estádio de Old Trafford, casa do Manchester United, com imagem de Cristiano Ronaldo - Oli Scarff/AFP

Curiosamente, o estádio do United fica a poucos minutos de onde o ex-vocalista dos Smiths morou na adolescência. A foto de Ronaldo está na fachada de Old Trafford e na loja oficial as camisas esgotaram dias depois do anúncio de que usaria a 7. “Voltem depois”, dizia o vendedor a torcedores dispostos a pagar o equivalente a R$ 800 por uma delas.

Do lado de fora, Paul Phoenix não tem do que reclamar. Durante o governo Thatcher, foi demitido, mudou de ramo e há 38 anos vende cachecóis de clubes. Torcedor do City, viu o lucro aumentar desde a contratação e só interrompeu nosso papo para vender mais um acessório com o rosto do português. “Essa é uma cidade de gente trabalhadora. O futebol é nossa religião.”

CR7 é assunto nas ruas e na imprensa. Fala-se do efeito positivo no vestiário, do bom exemplo para atletas jovens. Uma minoria torce o nariz, mas mostra que nem o cinco vezes melhor do mundo é unanimidade. Ouvi jornalistas respeitados dizerem que ele pode tirar o lugar dos ingleses, a pressão vai aumentar e o United não vai ganhar a Premier League e que, aos 36 anos, deveria agradecer por voltar à liga mais forte do mundo.

A reestreia é neste sábado (11), 15h (hora local, 11h de Brasília), contra o Newcastle. Uma questão vai jogar água na cerveja dos ingleses: quem mora no Reino Unido não vai assistir ao vivo na televisão. Desde os anos 1960, está em vigor no país o chamado “apagão das 15h”, regra em que partidas da liga entre 14h45 e 17h15 aos sábados não são transmitidas na TV, para incentivar a ida aos estádios e proteger times menores que dependem da venda de ingressos.

A previsão na hora do jogo é de céu nublado. O clima na cidade, aliás, é piada pronta. Certa vez, perguntei a Pep Guardiola como se sentia no City: “é o lugar perfeito para trabalhar, exceto pelo céu”. Esta semana, CR7 entrou na brincadeira. Postou uma foto sem camisa nas redes sociais com a legenda “quem diz que em Manchester não há sol?”. “Você trouxe o sol, irmão”, comentou Marcus Rashford. O português quer trazer títulos também. O tempo dirá.

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