É jornalista e vive em Londres. Cobriu seis Olimpíadas, Copa e Champions. Mestre e professora de jornalismo esportivo na St Mary’s University
Vai entrar água na pint do Arsenal?
Faltando seis jogos, torcedores sonham com título da Premier League que não vem há 19 anos
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"[Thomas] Edison inventou a lâmpada elétrica", diz Mikel Arteta no vestiário. O treinador do Arsenal, lâmpada apagada na mão, saca de dentro da bolsa um fio com uma tomada. "Uma lâmpada sozinha não é nada. Quero ver um time conectado e que brilhe", continua. Corta para a lâmpada acesa. E lá vai o Arsenal jogar contra o Brighton.
Emocionantes para uns, engraçadas para outros, as preleções de Arteta ficaram famosas por meio da série documental "All or Nothing", que mostrou bastidores do clube na temporada 2021/2022. Eles terminaram em quinto lugar e, por pouco, perderam a vaga na Liga dos Campeões –os quatro primeiros do Campeonato Inglês se classificam.
Quem viu a série certamente passou a gostar mais do Arsenal, e acho impossível não torcer por esse time. Uma equipe vibrante, jovem, talentosa, que conseguiu vitórias sensacionais nesta temporada. Aos poucos, mostraram que dava ir além da vaga na Champions e deixaram os torcedores sonhando: seria possível ser campeão da Premier League, algo que aconteceu pela última vez em 2004, com os Invencíveis de Arsène Wenger, que conquistaram o título sem perder nenhum jogo?
Mas tem um problema. Há meses, é discutido se o Arsenal aguentaria a pressão do Manchester City e a carga física e emocional de se manter em primeiro na tabela até o fim de longas 38 partidas da temporada, que termina no fim de maio. Se haveria algum momento definidor no campeonato, ele chegou. É agora.
Empates com Liverpool e West Ham transformaram a euforia da torcida londrina em nervosismo.
Nesta sexta (21), no pub do meu bairro, entre torcedores agoniados, vi o Arsenal empatar de novo em casa, agora com o lanterna Southampton —com Thierry Henry e Patrick Vieira na arquibancada. São cinco pontos à frente do segundo colocado, o City, que tem dois jogos a menos. O campeonato pode ter acabado aqui. Para esquentar a disputa, City e Arsenal se enfrentam na quarta (26), em Manchester, jogo com cara de final.
Fato é que o City está tentando, e quase conseguindo, colocar água na pint do rival (o chopp dos ingleses no pub é a pint, copo de 568 ml). Com Liverpool, Chelsea e Manchester United totalmente fora da briga, seria uma daquelas chances de título que não acontecem com frequência. Só que a dominância do City é tão absurda que a noção de competitividade na Premier League ficou meio turva nos últimos anos. Não há margem de erro.
Quem defende a equipe de Pep Guardiola dirá que eles merecem porque têm um timaço, reforçado nesta temporada pelo norueguês máquina de fazer gols Erling Haaland, e um gênio como técnico.
Críticos rebaterão falando que o City é um time sem alma e sob investigação por possível quebra de regras financeiras e que, se conquistar o quinto título inglês em seis anos, isso mostrará quanto a liga na verdade não é competitiva, mas sim previsível.
Já ouço torcedores do Arsenal resignados dizendo que, não importa o que aconteça, já chegaram mais longe do que esperavam. Wenger falou recentemente que os jogadores do City estão cansados porque ainda disputam a Liga dos Campeões e a Copa da Inglaterra e mandou uma mensagem para o ex-time em tom de "ainda dá".
Seria bom para o futebol se os "gunners" de Gabriel Jesus, Martinelli e Magalhães conquistassem a Premier League. Oportunidade dessas hoje em dia é rara. Se não acontecer, seria fracasso? De forma alguma. O resultado da temporada dirá mais sobre o City do que sobre o Arsenal.
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