Marina Izidro

É jornalista e vive em Londres. Cobriu seis Olimpíadas, Copa e Champions. Mestre e professora de jornalismo esportivo na St Mary’s University

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Perdoem o bandeirinha, a vida dele não é fácil

Ele deveria ter sido punido, mas quem aguenta quieto ver seu trabalho sempre questionado?

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Aconteceu logo após o fim do 1º tempo entre Liverpool e Arsenal, em Anfield, no domingo (9). Jogadores começaram a sair de campo e Andy Robertson, do Liverpool, foi atrás do bandeirinha. Encostou em Constantine Hatzidakis para reclamar de algo, o assistente tirou o braço e pareceu atingir o queixo do lateral com o cotovelo. Robertson, assustado, foi levado rumo ao vestiário por Mohamed Salah.

O público provavelmente nem notou, porque a partida já estava tensa, com os dois times sob pressão –Arsenal tentando não deixar escapar a liderança da Premier League na reta final; Liverpool querendo terminar o campeonato em uma posição decente na tabela. Mas a patrulha das mesas redondas e redes sociais entrou em ação na hora, pedindo até o banimento do bandeirinha e usando como exemplo um incidente recente em que o sérvio Aleksandar Mitrovic, do Fulham, foi suspenso por oito jogos por empurrar o árbitro. Houve tanta ou mais repercussão do que o empate em 2 a 2.

Andrew Robertson e Mohamed Salah conversam após o incidente com o bandeirinha - Phil Noble/Reuters

O assistente inglês foi afastado e uma investigação começou. Um ex-árbitro do Campeonato Inglês defendeu o colega na TV, dizendo que Hatzidakis, 38 anos, tipo físico intimidador, meio Massaranduba, grande, fortão, é um cara gentil e dedicado.

Para repórteres que fizeram plantão em frente à sua casa, Hatzidakisdisse que tentou apenas soltar seu braço ao ser segurado por Robertson. Dias depois, a Federação de Futebol da Inglaterra anunciou que não haveria punição. Hatzidakis pediu desculpas ao lateral escocês, que foram aceitas. Segue o jogo.

O lance entrou para a lista de bizarrices da normalmente ultracivilizada Premier League e chocou não pelo ato em si, mas por ter sido feito por alguém da equipe de arbitragem contra um jogador, não o contrário.

A atitude de Hatzidakis é inaceitável e nenhum tipo de violência pode ser justificado. Mas fico me perguntando como deve ser difícil para alguém nessa profissão fazer cara de paisagem 100% do tempo.

Árbitros e bandeirinhas passam a vida sendo xingados, confrontados, são o eterno saco de pancada das frustrações humanas. Teve um dia estressante? É só ir ao estádio e ofender a mãe dele. Não foi? Xinga no Twitter. E como eles normalmente não se manifestam publicamente, o lado deles da história raramente é ouvido. É até complicado entender por que alguém escolhe esse trabalho.

Do ponto de vista profissional, é obrigação manter o controle mesmo quando homens com salário e fama bem maiores do que o seu gritam na sua cara e tentam te desestabilizar. Olhando pelo lado humano, uma reação como a de Hatzidakis em algum momento da carreira é compreensível.

Por mais organizado que o futebol inglês seja hoje em dia, discutir agressão no esporte não é novidade por aqui (antigos hooligans e Eric Cantona que o digam).

Uma análise do caso no jornal The Guardian traz como ponto de vista que o árbitro de vídeo seria um dos responsáveis pelos momentos de tensão atualmente; que a introdução da tecnologia fez os árbitros em campo parecerem fracos e mais fáceis de serem persuadidos, e afetou o comportamento de jogadores e treinadores. E, para piorar, erros de arbitragem agora são mostrados através do VAR para o mundo inteiro ver.

Uma punição a Hatzidakis seria adequada, mas banimento? Perdoem o bandeirinha, pessoal.

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