Marina Izidro

É jornalista e vive em Londres. Cobriu seis Olimpíadas, Copa e Champions. Mestre e professora de jornalismo esportivo na St Mary’s University

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Ter desejo e prazer pela vida é o que nos move adiante

Esporte profissional e vida cotidiana mostram como é preciso mudar o olhar

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O governo britânico quer que aposentados acima de 50 anos voltem a trabalhar. É isso mesmo. A medida inclui incentivos fiscais e programas de treinamento e foi destaque no plano orçamentário divulgado nesta semana. Não é caridade, é matemática. Eles acreditam que esses profissionais produtivos e talentosos fazem falta no mercado de trabalho e vão ajudar a reerguer a economia do Reino Unido.

Coincidência o anúncio ter sido feito dias depois que as três estudantes brasileiras postaram um vídeo nas redes sociais dizendo que a colega de faculdade de 40 anos já deveria ter se aposentado.

Alunas de uma universidade de Bauru debocham de colega de classe por ela ter 40 anos de idade
Alunas de universidade em Bauru debocham de colega de classe por ela ter 40 anos de idade - Reprodução Twitter

Confesso: não gostei quando fiz 30 –que inocência! Na época, decidi que faria daquele ano um dos melhores da minha vida. Elaborei metas e as cumpri lindamente: terminei o mestrado, trabalhei nos Jogos Olímpicos, corri uma maratona. Mal sabia quantas oportunidades pessoais e profissionais maravilhosas viriam nos anos seguintes —e tenho certeza de que haverá muitas nas próximas décadas. Experiência e terapia também me ensinaram que não é a idade que dita o que podemos fazer na vida, e sim o desejo constante de viver.

Ao ver aqueles stories, concluí que alguém que acredita que só os bem jovens podem aprender algo novo está fadado a ter uma vida chata. Levando o tema para o esporte profissional, em que recordes são batidos por milésimos de segundos e juventude de fato pode fazer diferença, estimular esse preconceito desmerece atletas que lutam para provar que dá para manter o alto nível depois dos 40. Formiga, Dara Torres, Roger Federer, Serena Williams, Tom Brady e tantos outros que o digam.

Formiga, ex-jogadora da seleção brasileira - Thais Magalhães - 26.nov.21/CBF

Mirian Goldenberg escreveu um belo texto na Folha sobre o assunto das estudantes e o que chama de "velhofobia" –discriminação com base na idade. "O jovem de hoje é o velho de amanhã. Lutar contra a velhofobia é lutar pela nossa própria velhice e, principalmente, lutar por uma sociedade com mais saúde, dignidade e autonomia para os nossos filhos e netos: os velhos de amanhã".

Ter desejo e prazer pela vida é o que nos move adiante. Existe algo mais legal do que ver avôs e avós aprendendo a usar a internet? Ou quem não tem medo de trocar de carreira, tentar um novo esporte, viajar para um lugar onde nunca esteve? Ou fazer algo pela primeira vez, ajudando o outro, começando um trabalho voluntário.

Acredito no poder do estudo e, como em vários ofícios, no jornalismo isso é fundamental. Ai do jornalista que não se atualize todo santo dia. E isso é incrível. Aprendemos algo novo sempre, não importa a idade ou tempo de profissão.

Por isso, aplaudo iniciativas como a Oficina de Cobertura Esportiva Livre de Estereótipos de Gênero, que será conduzida pela jornalista Olga Bagatini na quarta-feira (22), no Museu do Futebol, com transmissão pela internet. Em julho tem a Copa do Mundo de Futebol Feminino e a ideia é ajudar a cobertura a ser respeitosa e profissional. Me lembrei de como isso também acontece antes de Jogos Paralímpicos, quando debatemos desde como falar corretamente o nome dos esportes até como fazer entrevistas. Não há vergonha em admitir que não sabemos algo e demonstrar interesse em entender.

Se essa história de Bauru deixou algo positivo foi o fato de ampliar o debate e estimular a empatia: se alguém começou a estudar mais tarde, será que foi por que quis ou por que antes não podia pagar a faculdade?

Mais do que se indignar, é preciso mudar conceitos.

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