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É jornalista e vive em Londres. Cobriu seis Olimpíadas, Copa e Champions. Mestre e professora de jornalismo esportivo na St Mary’s University

Descrição de chapéu desigualdade de gênero

Irlanda vai às urnas em plebiscito histórico no Dia da Mulher

Em vez de flores, ações; os irlandeses e o avanço em questões de igualdade de gênero

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Na próxima sexta-feira (8), os irlandeses decidem, através de dois plebiscitos, se querem mudar sua Constituição. A data escolhida, Dia Internacional da Mulher, não é à toa.

A primeira consulta popular propõe ampliar o conceito de "família", hoje restrito a quem é casado. E acrescentaria a frase "seja no casamento ou em outras relações duradouras". A segunda busca retirar uma frase antiquada que diz que: "focando sua vida nos afazeres da casa, a mulher apoia o Estado e, sem isso, o bem comum não pode ser alcançado", e adicionar um trecho reconhecendo que a função de cuidar é de toda a família, não só delas.

A Irlanda é um país progressista. Em 2015, se tornou a primeira nação do mundo a legalizar o casamento gay e, em 2018, o aborto, também por voto popular. Há poucas décadas, as irlandesas não podiam comprar preservativos nem se divorciar, a evolução foi rápida. No Relatório Global de Igualdade de Gênero 2023, do Fórum Econômico Mundial, aparece em 11° lugar entre 146 países —o Brasil é 57°.

Atualizar uma Constituição feita em 1937, inspirada em uma doutrina católica que restringia a mulher a um papel doméstico e com uma função social diferente da dos homens, seria um grande reconhecimento. Pesquisas de opinião sugerem que a maioria vai votar a favor das mudanças.

Irlandesas comemoram resultado do referendo sobre aborto, em 2018 - Clodagh Kilcoyne - 26.mai.18/Reuters

No entanto, mesmo em países que lutam por igualdade de gênero, o atraso na história gerou desigualdades que levarão anos para serem eliminadas. Mulheres acumulam tudo: carreira, responsabilidades com filhos, lar, deixando de cuidar de si próprias. Isso, claro, afeta também a prática de esportes.

Há várias pesquisas sobre a relação entre gênero e atividade física. Um estudo realizado por pesquisadores do Sports Medicine Research Institute, da Universidade de Kentucky, e do King's College de Londres, encomendado pela marca esportiva Asics no ano passado e analisando 25 mil pessoas em mais de 40 países, revelou que mais da metade das mulheres em todo o mundo está desistindo ou parando de se exercitar. Para 74% das entrevistadas, a principal barreira é a falta de tempo, contra 34% dos homens. Além disso, 61% das mães citaram a maternidade como o maior motivo pelo qual interromperam a prática esportiva.

Quem faz exercício sabe o quanto o esporte melhora nosso bem-estar, diminuiu o stress, nos deixa mais felizes e confiantes. Olhando para o alto rendimento, os Jogos Olímpicos de Paris-2024 serão os primeiros a alcançar a paridade total de gênero, finalmente. Muitas das medalhas do Brasil devem vir da talentosa geração de atletas mulheres.

Um ponto bem legal sobre o que vem acontecendo nos últimos anos na Irlanda é que as mudanças vieram do desejo do povo. Esses plebiscitos foram possíveis graças ao trabalho da Assembleia dos Cidadãos, grupo de pessoas comuns que representam a população e se reúnem para debater temas de interesse nacional e fazer recomendações ao governo.

Diferenças à parte —tanto no nível de desenvolvimento quanto no tamanho, pois a Irlanda tem cinco milhões de habitantes, menos da metade da cidade de São Paulo—, o Brasil poderia se inspirar nas lições que os vizinhos aqui do Reino Unido aprenderam.

A população tem mais poder do que imagina; e representatividade e igualdade importam —no papel e na prática. O momento para as consultas populares da semana que vem é simbólico. Uma bela conquista para o Dia Internacional da Mulher, não só para elas, mas para toda a sociedade.

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