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Jornalista e crítico de TV, autor de "Topa Tudo por Dinheiro". É mestre em sociologia pela USP.

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Livro reconstitui história de 50 programas de reportagem na TV e seus impactos

'O Repórter na TV' ajuda a entender o papel de centenas de profissionais, como Gloria Maria

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A repercussão da morte de Gloria Maria, no início do mês, deu uma boa ideia de o quanto era querida e como deixou marcas positivas na memória do espectador. Mas a comoção que provocou pode ter passado uma impressão errada sobre o lugar que ela ocupou como repórter de televisão.

Gloria Maria teve uma carreira mais longa e bem-sucedida do que a maioria de seus colegas e é considerada precursora de uma prática que se convencionou chamar de "passagem participativa".


Trata-se do expediente no qual o profissional sai da posição de mera testemunha dos fatos, narrando o que viu e sabe, e assume o papel de um personagem da notícia, interagindo com os entrevistados. Um exemplo muito lembrado desse tipo de jornalismo foi o registro que Gloria fez de um ritual rastafári na Jamaica, durante o qual experimentou maconha.

Seria injusto e reducionista, porém, considerar que os seus méritos a colocam como o pilar da história do jornalismo de televisão no Brasil. Um livro recém-lançado, "O Repórter na TV" (Pimenta Cultural, 628 págs., R$ 141,90), de Bruno Chiarioni e Igor Sacramento, ajuda a entender melhor o papel de centenas de profissionais, incluindo Gloria, numa história rica, complexa e muito atribulada.

Fruto de um estudo acadêmico, e com o subtítulo de "uma história dos programas de grande reportagem no Brasil", o catatau de mais de 600 páginas analisa cerca de 50 experiências diferentes, entre o início da década de 1960 e os dias atuais.

Não se trata da descrição de uma linha reta, evolutiva, mas de uma análise que busca identificar mudanças na forma de fazer jornalismo na televisão. Um tema muito presente é justamente a "noção de performatividade", ou seja, o desempenho do repórter durante o exercício da reportagem.

Gloria Maria faz travessia de balão para o Domingão do Faustão, em reportagem de 2001 - Reprodução


Na visão dos autores, a popularização dos meios de comunicação e o apelo a recursos não jornalísticos, o chamado "infotainment", fizeram mal ao telejornalismo de grande reportagem, "tornando-o um produto de entretenimento à lógica do mercado e dos interesses de programação das emissoras de TV".

O ponto alto de "O Repórter na TV" é o resgate de uma série de experiências ousadas e inovadoras, hoje pouco lembradas, como a primeira fase do "Globo Repórter", realizada por cineastas, o "Comando da Madrugada", de Goulart de Andrade, em vários canais, o "Documento Especial", de Nelson Hoineff, na Manchete, o "Caminhos e Parcerias", comandado por Neide Duarte na TV Cultura, e "Que Mundo É Esse?", de André Fran e equipe, na GloboNews, entre outros.

Mesmo ao resgatar experiências menos felizes, como o programa "Amaral Netto, o Repórter", feito pela Globo para agradar a ditadura militar, Chiarioni e Sacramento fogem do maniqueísmo. Eles observam que, do ponto de vista formal, a atração tinha um formato inovador e apontou caminhos técnicos para reportagens externas.

Mas é o olhar crítico sobre como o telejornalismo se deixou contaminar pela busca desenfreada por audiência que mais chama a atenção. Um caso exemplar é o do resgate do programa "Linha Direta", na Globo, no início da década de 1990, como uma resposta ao sucesso do sensacionalista Ratinho, que fez um estrago no Ibope brandindo um cassetete no estúdio.

Experiências mais ou menos recentes, como o "Profissão Repórter", de Caco Barcellos, na Globo, e os programas de Roberto Cabrini, na Record e no SBT, indicam caminhos para a grande reportagem na TV. O primeiro, pela ousadia de discutir abertamente os seus métodos e práticas durante a própria feitura das matérias. O segundo, pela força do impacto da performance do repórter.

Essencial para estudiosos, "O Repórter na TV" ajuda a entender a complexidade desse ofício e serve como ferramenta para evitar simplificações a respeito do tema.

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