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Antropóloga e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, é autora de "A Invenção de uma Bela Velhice"

Em busca do tesão perdido

Estamos experimentando uma profunda transformação dos medos, dos desejos e dos comportamentos amorosos e sexuais

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Desde 1988 venho realizando pesquisas sobre amor, sexo e traição. Como um exercício para pensar sobre os impactos da pandemia nas nossas vidas íntimas, busquei classificar as mudanças que tenho observado nos diferentes arranjos conjugais contemporâneos. É possível perceber uma intensificação de determinados medos e desejos que já existiam anteriormente, e também uma profunda transformação dos comportamentos de homens e mulheres de todas as idades.

Usando a metáfora do semáforo, descobri um comportamento que chamei de “sinal verde”, mais presente entre os jovens. No mundo real ou no virtual, os que estão nesse grupo estão transando bastante com seus parceiros fixos ou com pessoas que encontram no ciberespaço, como uma atriz de 33 anos:

“Conheci meu namorado pelo Tinder. Já usávamos e abusávamos do sexo offline e online bem antes da pandemia. Agora então estamos transando como nunca, parece que o tesão explodiu. Estou grávida de gêmeos e apelidamos os nossos bebês de quarenteners”.​

Com a pandemia foi possível perceber uma intensificação de determinados medos e desejos que já existiam - Giuseppe Cacace/AFP

Encontrei o “sinal amarelo” entre os “nem-nem”: aqueles que não são mais jovens, mas ainda não são velhos. Casados ou solteiros são os que mais se queixam de estarem sobrecarregados com as responsabilidades profissionais e as obrigações familiares. Neste grupo, brigas e conflitos são muito frequentes, pois um dos parceiros pode estar com tesão e o outro não ter o menor desejo, como contou uma jornalista de 45 anos:

“Estou em compasso de espera. Assim que a pandemia passar vou me divorciar. Quero voltar à vida normal, transar tudo o que não transei nos últimos meses. Estou doida para fugir da prisão domiciliar. Só não dou uma escapadinha por causa dos filhos. Preciso ir em busca do tesão perdido”.

Por fim, o “sinal vermelho”, mais presente entre os mais velhos. São aqueles que não têm mais energia, tempo e vontade para o sexo. Optaram por uma espécie de aposentadoria sexual, como uma professora de 63 anos: “Amo muito o meu marido, mas já me aposentei nesse setor. É natural que o tesão diminua com a idade, ainda mais em um momento de luto, sofrimento e impotência. Não sinto a menor falta de sexo. A pandemia deve ter se tornado a desculpa perfeita para muita gente que, como eu, não quer mais se sentir obrigada a transar sem tesão”.

O seu sinal para o sexo está verde, amarelo ou vermelho?

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